A recentemente criada associação ambientalista Zero alertou para o facto de 80% das zonas húmidas em território nacional estarem a sofrer com as pressões urbanísticas. Esta situação é problemática uma vez que estas áreas são essenciais para prevenir e minimizar os efeitos das cheias.
De acordo com os dados divulgados pela Zero, Portugal tem 1,8% do território ocupado por zonas húmidas e apenas parte desta área está protegida pela Convenção de Ramsar, abrangendo 31 sítios, num total aproximado de 132.487 hectares.
O problema é que, como ressalva a associação, “81,6% dos habitats relacionados com as zonas húmidas encontram-se degradados”, além de que “das 43 representações de 22 habitats, distribuídas pelas cinco regiões biogeográficas, 22 estão em estado de conservação desfavorável e nove em mau estado, situação que comprova que a atribuição de um estatuto de protecção a um determinado local não é sinónimo de uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável”.
A pensar nas celebrações do Dia Internacional das Zonas Húmidas (2 de Fevereiro), a representante da associação Zero, Carla Graça, explicou à agência Lusa que, neste momento, “80% das nossas zonas húmidas estão ameaçadas, porque estão muitas vezes no litoral, como nos estuários, mas também no Algarve, e sofrem muitas pressões de expansão urbana, turístico-imobiliária, pois são muito apetecíveis para o desenvolvimento desses projectos”.
A preservação destas áreas reveste-se de grande importância, já que, como a especialista em recursos hídricos esclareceu, são “fundamentais em termos de capacidade de retenção de água, para prevenir e minimizar os efeitos das cheias e das inundações” e são “muito importantes para a regulação do ciclo hidrológico, por sua vez fundamental para as actividades humanas e para o equilíbrio, quer ecológico, quer social”.
Perante este cenário a associação defende a implementação de “planos de salvaguarda destas zonas húmidas”, pois, como Carla Graça relembrou, apesar dos planos de ordenamento dos estuários estarem previstos na lei da água, a realidade é que há mais de dez anos “nada foi implementado”.
Paralelamente Carla Graça salientou que, muitas vezes, assiste-se “a tomadas de decisão pouco transparentes, fazem-se estudos, nomeadamente de impacto ambiental, que servem para fundamental decisões que já estão previamente tomadas, quando devia ser exatamente ao contrário”.
Refira-se que se encontra em consulta pública os planos de gestão de região hidrográfica e os planos de gestão de riscos de inundações, que fazem parte das medidas de retenção natural de água, preconizadas pela Comissão Europeia.
Foto: Anabela Loureiro