Em 2016 a produção de electricidade a partir de fontes renováveis em Portugal Continental representou 64% do consumo de electricidade. Mas de acordo com a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, este valor podia ser ainda superior.
O facto deste valor não ter sido maior prende-se com o facto de o último Outono ter sido caracterizado por temperaturas ligeiramente acima da média e uma produtibilidade de energia eléctrica a partir dos recursos hídricos inferior à média
Ainda assim, a associação ambientalista recorda que 2016 foi um ano de recordes, onde sobressaem alguns registos, nomeadamente em Maio, mês em que Portugal teve o consumo de electricidade garantido apenas por fontes renováveis durante 107 horas consecutivas. Neste período registou-se um conjunto de 1130 horas, correspondendo a mais de um mês e meio, em que a produção renovável foi suficiente para abastecer o consumo eléctrico nacional.
A produção de electricidade por fontes renováveis em Portugal Continental contribuiu fortemente para um saldo exportador recorde entre Portugal e Espanha, isto é, um balanço entre exportação e importação de mais de 5 TWh, 10% do consumo nacional, a um preço médio de exportação de 37,2 €/MWh[1].
A hídrica foi a tecnologia renovável que mais gerou, num total de 16,6 TWh, seguida da eólica (12,2 TWh), da bioenergia (2,7 TWh) e da solar fotovoltaica (0,8 TWh), cuja percentagem ainda é muito reduzida e requer uma forte promoção.
Os valores da produção hidroeléctrica e da produção eléctrica de origem eólica são superiores aos verificados no período homólogo de 2015, devido em parte ao aumento da potência eólica e hídrica instalada a nível nacional, mas também por uma disponibilidade destes recursos renováveis acima da média.
Francisco Ferreira, presidente da Direcção ZERO, considera que “deixar de apostar nas energias renováveis é um erro que não podemos deixar que aconteça, para além de manter também a aposta na eficiência energética. A aposta nestes sectores permitirá retirar inúmeras pessoas da pobreza energética, contribuirá para criar mais empregos e para a melhoria da saúde das populações, reduzindo o nosso impacte no ambiente. Para tal é preciso que as instâncias europeias e nacionais dêem um sinal claro nas suas políticas de aposta nestes sectores e num compromisso efectivo com a questão das alterações climáticas”.
Por seu lado, António Sá da Costa, presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Energias Renováveis, afirma: “Os benefícios na aposta na electricidade renovável são elucidativos: só em 2016 induziram um ganho económico por redução do preço de mercado de 900 milhões de euros e evitaram a importação de 890 milhões de euros de combustíveis fósseis, o que ultrapassa largamente o facto de ainda receberem uma tarifa bonificada. Para além disso, o cluster científico, tecnológico e industrial deste sector está cada vez mais fortalecido, sendo responsável por um volume de exportação de mais de 400 milhões de euros”.
A produção de energia eléctrica através do carvão continua, mas teve ligeiro decréscimo. A continuação dos baixos preços do carvão e das licenças de emissão de dióxido de carbono emitido permitiu que as centrais térmicas a carvão (Sines e Pego) tivessem preços competitivos no mercado ibérico em relação a outras fontes de produção de electricidade não renovável e conseguissem assim assegurar uma fracção importante do consumo. Assim, registou-se um ligeiro acréscimo de produção por este tipo de centrais em relação ao ano de 2015, na ordem dos 0,8 %. Em 2016, a produção eléctrica de origem fóssil representou 34,1 % da produção.
A ZERO espera que, e na sequência das declarações do ministro do Ambiente no passado dia 29 de Novembro de 2016, o processo para deixar de utilizar carvão como fonte de energia primária para produção de electricidade seja uma prioridade política devidamente avaliada e ponderada no contexto de Portugal e da Península ibérica. Se assim for, a associação acredita que bem antes de 2030 podemos vir a ter uma maior produção de electricidade renovável, não se recorrendo ao carvão.
Esta entidade defende ainda a aposta nas renováveis uma vez que permite a redução do custo da electricidade no mercado spot. O mix de produção eléctrica verificado em 2016 permitiu situar o preço da electricidade no mercado spot do MIBEL nos 39,4 €/MWh. Este valor é bastante inferior ao verificado no período homólogo de 2015, de 50,4 €/MWh, quando a representatividade das renováveis no consumo foi de apenas 48 % (ano particularmente seco).
As emissões associadas à produção de energia eléctrica somaram 13,9 milhões de toneladas de CO2 em 2016 - cerca de 22 % do total de emissões de gases com efeito de estufa de Portugal. Sem electricidade renovável em Portugal e partindo do princípio que seria possível assegurar o consumo recorrendo somente à utilização de toda a capacidade instalada das centrais a carvão e a centrais de ciclo combinado a gás natural, as emissões atingiriam 25,7 milhões de toneladas de CO2. Este valor corresponderia ao dobro do actual, cerca de 40 % do total de emissões de gases com efeito de estufa de Portugal.
A ZERO lembra que em 2016 verificou-se um ligeiro aumento do consumo, na ordem dos 0,7 % em relação a 2015. A intensidade energética (na electricidade), que resulta da quantidade de energia eléctrica necessária por unidade de Produto Interno Bruto gerada, está assim a evoluir favoravelmente, dado que se estima para 2016 um crescimento do PIB na ordem dos 1,6 % mais elevado que o aumento do consumo verificado.
Foto Anabela Loureiro