No dia 2 de Agosto, “esgotaremos os recursos naturais do Planeta disponíveis para este ano”, afirma a organização ambiental ZERO.

De acordo com a ZERO, todos os anos é apresentada uma estimativa sobre o dia em que a Humanidade atinge o limite do uso sustentável de recursos naturais disponíveis para esse ano, ou seja, o orçamento natural, habitualmente designado como ‘Overshoot Day’. Neste âmbito, para 2017, o limite será atingido a 2 de Agosto.

Refira-se que o último ano em que respeitámos o nosso orçamento natural anual foi em 1970.

De acordo com a ZERO, Portugal é um contribuinte activo para esta situação, uma que se, se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que nós, seriam necessários 2,3 planetas. Além disso, o consumo de alimentos (32% da pegada global do País) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as actividades humanas diárias que mais contribuem para a Pegada Ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos para intervenções de mitigação da Pegada.

Como a ZERO salienta, num mundo onde persiste uma enorme desigualdade em termos de distribuição de rendimentos e acesso a recursos naturais, estes dados são claros sobre a necessidade de se produzir e consumir de forma muito diferente. Até porque o Planeta é a fonte de tudo o que necessitamos para viver enquanto espécie.

O ‘Overshoot Day’ indica que estamos a forçar os limites do planeta cada vez com maior intensidade, uma tendência que é urgente mudar para bem da Humanidade e da sua qualidade de vida.

A ZERO refere que é muito comum falar-se da importância de mudar os estilos de vida como um elemento chave para a construção de uma sociedade sustentável. Contudo, a mudança necessária rumo à sustentabilidade não será atingida apenas pela acção individual dos cidadãos. A acção política e das empresas em diferentes sectores é crucial.

Esta associação ambiental considera que a aposta numa Economia Circular, onde efectivamente a utilização e reutilização de recursos é maximizada, deverá ser uma prioridade transversal a todas as políticas públicas. O ponto fulcral deverá ser a redução no uso de materiais, a promoção da reutilização e a extensão dos tempos de vida dos bens e equipamentos. Para ser eficaz, teremos que mudar o paradigma de “usar e deitar fora”, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, com um forte enfoque na redução, reutilização e reparação e na procura de oferecer serviços em alternativa à venda de bens.

A promoção de uma dieta alimentar saudável e sustentável (a começar nas escolas, mas a integrar de forma abrangente em toda a sociedade), com a redução do consumo de proteína de origem animal e um aumento significativo do consumo de hortícolas, frutas e leguminosas secas, trará enormes benefícios à saúde de todos e uma redução significativa do impacto ambiental associado à alimentação. Em Portugal, tal significará uma aproximação da balança alimentar portuguesa com o preconizado no padrão alimentar da roda dos alimentos, um objectivo, sobre todos os pontos de vista, desejável.

A promoção da mobilidade sustentável assente em diferentes estratégias, pode dar um contributo muito importante, nomeadamente através da: Melhoria do acesso e das condições de operação dos transportes públicos (por exemplo, privilegiando os corredores específicos e melhorando a articulação entre diferentes meios de transporte, ao nível dos interfaces, horários e bilhética); disponibilização de infra-estruturas e condições que estimulem a mobilidade suave (andar a pé, utilização da bicicleta); e a partilha do transporte (car-sharing) ou mesmo a transição para a mobilidade eléctrica.

Cada um de nós pode ter também um papel muito importante, desde logo através da pressão que podemos colocar em todo o sistema de produção.

A ZERO refere ainda que exigir a nível político e empresarial a democratização da sustentabilidade. Não faz sentido que quem quer ser sustentável deva ser penalizado em termos de preço ou de dificuldade no acesso aos bens necessários. É importante que o preço a pagar seja justo, mas é muito importante que as soluções menos sustentáveis sejam penalizadas ao mesmo tempo que as opções sustentáveis são incentivadas. A pressão de todos nós pode fazer a diferença.

Alterar a dieta alimentar, respeitando a Roda dos Alimentos é um dos maiores contributos que cada um de nós pode dar em termos de sustentabilidade. Reduzir o consumo de proteína animal (por exemplo substituindo uma refeição de carne por um prato vegetariano com leguminosas), de gorduras e de comidas processadas terá benefícios em termos de saúde, mas também em termos ambientais e sociais, em particular se se optar por comprar produtos locais ou, pelo menos, nacionais.

Evitar usar o carro individual, assumindo o desafio de conhecer melhor o sistema de transportes públicos (muitas opiniões baseiam-se em experiências com décadas e não refletem as melhorias que foram sendo implementadas). Partilhar boleias com colegas e incentivar as crianças e jovens a deslocarem-se mais a pé ou em modos suaves (bicicleta, trotineta, patins, etc.) é outra das medidas que podemos procurar integrar nas nossas vidas.

Dar um passo de cada vez. Propôr-se, por exemplo, o objectivo de fazer uma mudança por mês para tornar o seu quotidiano mais sustentável, e partilhá-lo com os seus amigos e colegas (não só poderá sensibilizá-los, como poderá aumentar o seu “incentivo” para manter o seu interesse).

Evitar usar o cartão de crédito ambiental é um investimento no nosso bem-estar e qualidade de vida. Viver com pleno respeito pelos generosos limites do Planeta Terra é a única forma de garantirmos um melhor futuro para todos.