A Trienal de Arquitectura de Lisboa lançou o Concurso de Ideias de Arquitectura para o Mercado de Santa Clara que se encontra a decorrer até ao dia 9 de Outubro.

O concurso, de âmbito nacional, tem candidaturas abertas de 20 de Julho e 9 de Outubro de 2017 e dirige-se a arquitectas/os em nome individual, organizados em colectivos informais ou sociedades de profissionais habilitadas a exercer a actividade de estudos e projectos de Arquitectura.

Promovido no quadro do programa de revitalização dos mercados promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, esta iniciativa tem como objectivo encontrar a melhor solução de adaptação do mais antigo mercado coberto da capital a negócios da economia cultural e criativa associados ao Design, Media, Artes, Cultura e Inovação.

O objecto principal deste estudo prévio simplificado é a adaptação da nave central e seu dois acessos a Este e Oeste.

Com uma única fase, este concurso está sujeito a anonimato.

Como responsável pelo desenho e promoção do concurso, a Trienal de Lisboa reafirma a sua vontade de dinamização da freguesia em que está instalada e a participação activa na sua regeneração. Sendo o mercado uma das estrutura incontornáveis desta zona da cidade, e porque "é altura de olhar com atenção para o Campo de Santa Clara e perceber que o que ali está é um conjunto excepcional de edifícios que numa volta de 15 minutos contam muitas histórias de Lisboa", (Alexandra Prado Coelho in Público), considera a Trienal que esta é também a oportunidade de reflexão pública sobre a utilização futura deste espaço.

Da autoria de Emiliano Augusto de Bettencourt, o Mercado de Santa Clara é um exemplo da utilização privilegiada do ferro em Arquitectura, típica do fontismo do final do século XIX, patente na estrutura da nave e nos portões de ferro forjado. A sua história está associada à da Feira da Ladra que, em 1882, passou a preencher o espaço circundante. Desde 2011, o Mercado Santa Clara acolhe o Centro das Artes Culinárias, resultado duma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa e As Idades dos Sabores – Associação para o Estudo e Promoção das Artes Culinárias, funcionando enquanto espaço de desenvolvimento destes saberes através de mostras, workshops, venda de publicações, produtos tradicionais, entre outros eventos temáticos, seguindo fiel à sua história relacionada com os saberes antigos.

Inaugurado em Outubro de 1877 no coração da freguesia de S. Vicente, o Mercado de Santa Clara (antigamente designado de Oriental), é o mais antigo mercado coberto de Lisboa. Obra do arquitecto Emiliano Augusto Bettencourt, servia como mercado abastecedor e é um exemplo da arquitectura em ferro do final do século XIX.

Com cerca de 1300 m2 de área de implantação, é assinalado por grandes portões de acesso, e o seu espaço interior desenvolve-se em socalcos que acompanham a topografia, num plano inclinado, por conveniência estrutural e no sentido de facilitar o escoamento de águas.

O Campo de Santa Clara é um território marcado por diversos acontecimentos históricos. Foi neste solo que D. Afonso Henriques acampou as tropas que planearam a vitoriosa conquista de Lisboa aos Mouros, no século XII. Mais tarde, foi aqui que se construiu a Igreja Mosteiro de S. Vicente, que por ser terreno baldio e com pouca população, se tornou em “campo da forca”, onde se executavam penas capitais. Foi  aqui também que, no século XIII, se construiu o Mosteiro de Santa Clara que deu nome à zona. Mais tarde, no século XVI, foi nesta área que a Infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, mandou erguer os seus Paços e a Igreja Paroquial de Santa Engrácia, a mesma que deu origem ao Panteão Nacional. Na segunda metade século XIX, foi aqui que se edificou o Mercado que é envolvido, todas as terças-feiras e sábados, pela Feira da Ladra.

Em 1926, torna-se mercado agrícola onde se podiam encontrar bancadas de venda de legumes e frutas, de peixe e carne.

Em 2005, oi objecto de uma intervenção que passou por um reforço e consolidação estrutural do mercado no sentido de continuar a sua história enquanto pólo de artesanato e antiguidades. Rodeado de palacetes, casas conventuais, instituições militares e igrejas continua, até hoje, a ser uma dos locais mais apetecíveis para os lisboetas e turistas.

Foto: wikimapia