O Parque Arqueológico e o Museu do Côa assinalam no dia 29 de Novembro e dia 2 de Dezembro a passagem de duas décadas sobre a descoberta da Arte do Côa. Recorde-se que, em 1994, a preservação das gravuras rupestres causou polémica a nível nacional e internacional.

Foi em Novembro de 1994 que surgiram as primeiras notícias relativas a importantes achados arqueológicos na área que seria submersa pela barragem do Baixo Côa, então em curso, e veio a confirmar-se que se tratava do “maior complexo de arte rupestre paleolítico ao ar livre conhecido” até essa ocasião.

A polémica foi tal que, nesse mesmo ano, a Universidade da Califórnia apelou ao então Presidente da República Mário Soares para que interpelasse a favor da preservação das gravuras rupestres do Côa para que estas não fossem submersas devido à construção de uma barragem. Aliás, esta universidade considerou mesmo que, a acontecer, seria um crime contra a Humanidade.

Em pouco tempo o rastilho desta polémica levou 11 mil pessoas de todo o território nacional a assinarem uma petição em defesa das gravuras rupestres de Foz Côa, a qual foi entregue na Assembleia da República.

 

Uma visita oficial do Presidente da República Mário Soares marcou o ponto de viragem desta polémica e deu o mote para a campanha de todos os que estavam contra a construção da barragem quando disse: “As gravuras rupestres não sabem nadar” (alusão a uma música dos Black Company). Mais de três mil alunos dos ensinos básico, preparatório, secundário e superior agarram nestas palavras e gritando - “As gravuras rupestres não sabem nadar” - interrompem a passagem da comitiva presidencial, conseguindo entregar ao Chefe de Estado uma petição contra a suspensão da barragem com cerca de 70 mil assinaturas.

Nas legislativas de Outubro de 1995, o socialista António Guterres sucedeu a Cavaco Silva no cargo de primeiro-ministro e o seu governo declarou a suspensão da barragem, enquanto o Vale do Côa, com os diversos “sítios”, entretanto identificados ao longo de 17 quilómetros, recebia a classificação de monumento nacional.

Segundo os especialistas, este espaço corresponde ao maior museu ao ar livre do Paleolítico de todo o mundo, que em 1998 acabou por receber a classificação de Património Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Em Julho de 2010 o Museu do Côa (MC) abre as portas, 15 anos depois da polémica e com um investimento de cerca de 17 milhões de euros.

Decorria o ano de 2011 quando foi criada a Fundação Côa Parque para gerir o MC e o Parque Arqueológico do Vale do Côa, com o objectivo de proteger, conservar, investigar e divulgar a arte rupestre.

A Direcção Regional de Cultura do Norte avnçou que “para comemorar a efeméride foi preparado um programa evocativo, do qual se destaca, no dia 29 de Novembro, a reabertura ao público da sala D do Museu do Côa, ultrapassados que foram os condicionalismos técnicos que levaram ao seu encerramento”.

Mantendo o espírito da história que se conta no MC, esta sala continuará dedicada ao chamado coração do “santuário arcaico paleolítico” da Penascosa/Quinta da Barca.

A 2 de Dezembro, dia comemorativo da classificação da Arte do Côa como Património Mundial pela UNESCO, as visitas ao Museu e aos sítios de arte paleolítica abertos ao público serão gratuitas para os grupos escolares que agendarem as suas marcações.