Dez carreiros e cinco carros de cesto tradicionais da Madeira vão estar, no dia 23 de Setembro, em Lisboa. Trata-se de uma acção promocional e quem quiser pode fazer a descida da Rua do Carmo, no Chiado, num destes tradicionais carros madeirenses.

O presidente da Associação dos Carreiros do Monte, em declarações à agência Lusa, afirmou que esta iniciativa “vai ser como uma coisa do outro mundo, os carros de cesto da Madeira a fazer descidas no continente”.

Norberto Gouveia tem mesmo a “certeza de que muita gente vai ficar espantada” e acha que esta iniciativa “vai chamar muito a atenção das pessoas”. Por isso, no local, “alguém vai explicar que é uma tradição da Madeira, onde os carros de cesto funcionam durante todo o ano”.

Foi no século XIX que surgiu a profissão de carreiro e se deram início às descidas em carro de cesto do Monte ao Livramento, no Funchal. Durante décadas foi um negócio familiar, mas que acabou por ser liberalizado. Com efeito, houve tempos em que um dos requisitos fundamentais para entrar na profissão era ser descendente directo ou indirecto de carreiros, mas a associação acabou por ceder face ao aumento da procura. “Chegámos a uma altura, nos anos 80, em que a actividade já não podia funcionar dessa maneira. Então, apostámos em recrutar também pessoas sem ser das famílias e sem ser só da freguesia do Monte, de modo que agora existem carreiros oriundos de vários pontos da Madeira e até do Porto Santo”.

70% destes profissionais têm menos de 30 anos e a forma como são recrutado, segundo Norberto Gouveia, prende-se, “em princípio, pela força que revela, embora isto seja mais o jeito do que a força, depois segue-se um período de teste, que não vai além de 15 dias, em que o “recruta” faz descidas com um dos profissionais mais experientes, sendo depois integrado no grupo.

Hoje, 150 homens manobram diariamente cerca de 90 carros de madeira e vime (embora a frota seja de 170) por uma sinuosa descida de dois quilómetros a cerca de 10/15 quilómetros/hora com o seu traje típico pelo qual são facilmente identificados: calças e camisa brancas, chapéu de palha, uma corda (utilizada para manobrar o carro) e um par de botas feito com solas de pneu para agarrar bem ao chão.

De acordo com Norberto Gouveia, estes 150 homens “às vezes não chegam”, sobretudo nos meses mais intensos de Junho, Julho e Agosto.

A acção promocional levada agora pelo Governo Regional, que vai decorrer por apenas um dia, vai sair da ilha da Madeira para o Continente. Em Lisboa, as pessoas vão ter a oportunidade de experimentar aquele que foi considerado pelo canal televisivo norte-americano CNN como um dos sete meios de transporte mais “fixes” do mundo.

Foto: FC - Turismo da Madeira