A Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção realizou o seu 4º Fórum sob o tema “ Motivação das novas gerações para a Engenharia”. O tema escolhido resulta da redução drástica de alunos inscritos em cursos de Engenharia Civil que de 1.500 inscritos, em 2010, reduziu para 300, em 2014, o que corresponde a um decréscimo de 80%.
O encontro teve lugar no Centro de Congressos do LNEC, em Lisboa, e a abertura da sessão esteve a cargo do presidente do LNEC, Carlos Pina, e da presidente da PTPC, Rita Moura, da Teixeira Duarte.
Rita Moura explicou o motivo pelo qual a PTPC escolheu este tema para o debate, referindo que, “das 300 inscrições, apenas 30% indicam Engenharia Civil como primeira escolha; as classificações também baixaram, o que significa que o capital humano que iremos ter daqui a cinco anos não será aquele a que estamos habituados”.
Seguiu-se uma apresentação pelos membros da Comissão Executiva da PTPC – mostrando um resumo da actividade desenvolvida no último ano e Visão Estratégica (Ambiente, BIM, LEAN e Gestão de Risco), na qual foi revelado o projecto do Observatório de Vigilância Tecnológica, numa versão experimental que a PTPC está a criar, onde serão publicados vários casos de estudo e casos de obra desenvolvidos pelos sócios da Plataforma. Segundo Rita Moura, “a ferramenta digital já existe, no entanto carece ainda do fornecimento de conteúdos, de forma sistemática e mais profissionalizada”. As grandes empresas já faziam esta tarefa individualmente, agora o objectivo é a partilha para o benefício de todos”. Além do Observatório, no último ano a PTPC promoveu algum trabalho no sentido de a estreitar as relações com universidades, agilizando o contato entre estas e as empresas do sector, designadamente através de iniciativas conjuntas tais como, realização de fóruns e sessões temáticas, desenvolvimento de teses de mestrado, relatórios de síntese tecnológica, consolidação da rede de contactos através dos Grupos de Trabalho e desenvolvimento de projectos de IDI. Também foi evidenciada a relação com a Plataforma Tecnológica Europeia da Construção, nomeadamente no âmbito da participação em conferências e reuniões, participação na rede das Plataformas Nacionais (NTP’s), relação com congéneres de outros países e empresas e participação no âmbito de candidaturas ao “Horizonte 2020”.
O projecto mais importante, para um futuro muito próximo é o reconhecimento da PTPC como entidade gestora de um cluster de Arquitectura, Engenharia e Construção, atendendo que no entender desta associação é preciso “Unir esforços para um sector mais forte, coeso e global”. Neste âmbito foram evidenciadas as exportações das quatro empresas de construção que pertencem à Comissão Executiva da Plataforma, que representam 5,4% das exportações nacionais. O cluster será uma forma de profissionalizar a atividade da PTPC, que pretende ser um “catalisador da inovação, do conhecimento, do desenvolvimento tecnológico e da projecção internacional da Engenharia e Arquitectura Portuguesas”.
A primeira parte dos trabalhos terminou com a apresentação de Vasco Peixoto de Freitas, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, sobre o tema “A reabilitação de edifícios necessita de um plano estratégico para 2015-2025”; apresentou também o Relatório de Síntese Tecnológica que está a ser desenvolvido no âmbito do Grupo de Trabalho de Reabilitação da PTPC.
Segundo Vasco Peixoto de Freitas, “não existe nenhuma sociedade desenvolvida que possa dispensar a Engenharia Civil.(…) É claro que não podemos estar sempre a construir, mas não devemos descurar outro mercado que é a Reabilitação e para tal temos que reabilitar com qualidade. No entanto, precisamos de regulamentação realista na área, não uma regulamentação que atrapalhe”.
A mesa redonda alusiva à temática “Motivação das novas gerações para a Engenharia”, na segunda parte do evento, teve como moderadora Madalena Queirós, do Diário Económico, e contou com um painel de convidados especialistas em matérias relacionadas com o tema.
O Bastonário da Ordem dos Engenheiros Carlos Matias Ramos abordou a necessidade que irá existir de engenheiros civis no futuro e as perspectivas sobre o exercício da profissão: “Na Alemanha já existe um défice de 70 mil engenheiros e prevê-se nos próximos anos que exista um défice de 200 mil engenheiros na Europa.(…) Temos de procurar os melhores para manter a excelente imagem da nossa engenharia. Neste momento, a engenharia é vista como uma commodity, as pessoas não valorizam o que nós fazemos, temos de fazer “marketing” da nossa profissão e valorizarmo-nos”.
Fernando Branco, do Instituto Superior Técnico, expôs a problemática da redução drástica das candidaturas a engenharia civil: “A relação base é a economia. É o que leva os nossos engenheiros a procurar empregos lá fora ou a seguir as empresas nacionais para fora do País. A solução é VIIP - Vocação, Imagem (mudar a imagem dos engenheiros), Investimento (tem de haver investimento público) e Profissão (atuar em todas as áreas da profissão (Universidades)”.
O presidente da Ordem dos Arquitetos João Santa-Rita, que foi abordado sobre a experiência positiva em Arquitectura em termos do elevado número de alunos inscritos, afirmou: “Não sei de segredo nenhum na Arquitectura. O mais importante é a formação, serem cursos prestigiados internacionalmente, como já o são. No caso da Arquitectura é um curso único e portanto atrai alunos de várias áreas”.
Isaura Vieira, da Direcção Geral de Educação, abordou a motivação dos estudantes do secundário pelas disciplinas de matemática e física e o intercâmbio com a prática profissional: “Isto é um problema Europeu, e Portugal até não é dos piores, são muitos os alunos que escolhem matemática e física, mas a maior parte segue ciências da vida e não engenharia. Temos muitos programas de incentivo para a matemática e física e programas que levam cientistas às escolas. Se calhar temos de criar um programa que leve a indústria à escola e mostre o que esta faz”.
Teresa Oliveira, da Universidade Católica Portuguesa, falou acerca da motivação profissional e o envolvimento das direcções de recursos humanos: “ A promoção da profissão deve ser feita à semelhança do que os jovens desejam/ procuram. Temos de desafiar as Universidades a repensar a sua forma de chegar aos alunos. Mudar a sua imagem”. Evidenciou também a importância das competências adicionais, dos engenheiros civis, desenvolvidas ao longo da sua vida profissional das quais nem se dão conta e que podem e devem ser potenciadas.
Rita Moura, presidente da PTPC em representação da Teixeira Duarte, questionou sobre como poderá ser valorizada a profissão, qual o papel que a PTPC na sua promoção e como vai ser a actividade da construção no futuro. Actualmente em Portugal a contratação pública é, com grande frequência, feita ao preço mais baixo, minorando peso da componente técnica, por isso salientou que, “quando compramos um electrodoméstico temos a preocupação de escolher um equipamento mais durável, com qualidade, não faz sentido compramos uma ponte (ou qualquer construção) pelo preço mais baixo”. Estes são investimentos de grande valor e alcance sendo fundamental uma avaliação das soluções ao longo da sua vida procurando a melhor relação qualidade e preço.
O debate terminou com o consenso de todos de que existe a necessidade imperativa de mudar a forma como esta geração encara a engenharia e cativá-los para uma profissão de futuro. A Engenharia Civil é muito mais do que construção, é a preocupação com o bem-estar e o dia-a-dia das pessoas.