O potencial económico do sector da construção metálica no futuro foi o tema central conferência organizada pela CMM – Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, que se realizou em Coimbra. Uma das conclusões foi que, caso as empresas nacionais pretendam estar nos mercados com perspectiva de crescimento têm de ir para a Ásia.
A conferência que contou com a presença de Tiago Abecasis da CMM, Pedro Reis de Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Tintas, Jorge Nandim de Carvalho, da Direcção da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores, Louis-Guy Cajott, do Arcelor Mittal Luxemburgo e João Duque Professor Catedrático no ISEG, foi dedicada à apresentação das potencialidades económicas da construção metálica e à definição das metas de trabalho deste setor, nos próximos anos, um sector que tem contribuído, por via das exportações, para a melhoria da balança comercial nacional.
A abertura da conferência esteve a cargo de Tiago Abecasis do Conselho de Administração da CMM, que partilhou com a audiência a sua visão acerca da evolução do sector do aço e da construção metálica nacional, que nos últimos anos registou um crescimento anual de 20% nas exportações e que assegurou 26 mil postos de trabalho directos.
Para o responsável, “analisando os indicadores dos últimos anos, estamos perante uma indústria que exporta 80% da sua produção, com grande vitalidade, tecnologicamente avançada e com uma forte capacidade competitiva a nível internacional. Assim, devemos continuar a apostar na exigência, na inovação e na qualidade da produção e na crescente qualificação e especialização dos profissionais do sector, tendo como propósito firme a sólida melhoria da qualificação do setor, visando a garantia aos seus clientes, nacionais e estrangeiros, da aquisição de produtos com um alto padrão de qualidade. Só assim será possível manter o ritmo crescente das exportações e do seu valor acrescentado”.
O responsável finalizou acrescentando que as empresas devem ter em conta que as soluções metálicas estão a afirmar-se, a cada ano mais competitivas, tanto nos mercados evoluídos e exigentes do Ocidente, como nos mercados emergentes de vários continente, reforçando, que estes últimos representam mais de 50% da área construída a nível mundial todos os anos.
“Nunca é de mais insistir na vantagem ímpar do aço decorrente da possibilidade da sua reutilização e a reentrada no canal comercial. Ela permite a redução da necessidade de extração de mais minérios (principalmente o de ferro), o que, por si só, constitui um benefício fundamental para a economia mundial, tendo em conta a crescente escassez de matérias-primas, mas igualmente para o ambiente através da diminuição da pegada ecológica deixada pelas construções metálicas. A esta enorme vantagem da construção metálica não tem sido dado o relevo correspondente. É um dos desafios para os próximos anos”, concluiu o responsável da CMM.
As associações do sector das tintas e dos projectistas e consultores também estiveram representadas na conferência. Pedro Reis de Almeida, Presidente da Associação Portuguesa de Tintas fez uma retrospetiva da evolução do mercado, nos últimos anos, e apontou a necessidade de este setor aumentar significativamente a sua penetração na habitação e edifícios comerciais, nomeadamente na renovação do centro das cidades.
Jorge Nandim de Carvalho, da Direcção da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores, por seu lado, evidenciou as dificuldades que os seus profissionais têm enfrentado devido à redução do investimento no mercado interno e apontou a exportação como o caminho a seguir para uma estabilização do mercado que representa.
O encontro, que reuniu empresários do sector, contou ainda com a presença de Louis-Guy Cajott, do Arcelor Mittal Luxemburgo, um especialista internacional que apresentou um conjunto de estratégias para potenciar a utilização do aço na Europa.
“Manter elevados padrões de qualidade e tornar o aço a principal opção na construção são algumas das estratégias que o mercado pode implementar. Além disso, o mercado deve apostar em novas classes de resistência (classes de super alta resistência), que iria melhorar a posição competitiva deste mercado comparativamente com o betão. Mas, para facilitar a implementação destes novos produtos, é fundamental uma actualização das normas e regulamentações”, afirmou Louis-Guy Cajott durante o encontro.
João Duque, professor catedrático no ISEG, fez uma reflexão sobre as perspectivas dos agentes internacionais e sobre o papel das empresas portuguesas, centrada no tema ‘Sucesso ou Sobrevivência Empresarial’.
Para o economista, as grandes economias vão continuar a crescer e a área económica onde é esperado maior crescimento são os países do continente asiático que fazem parte do ASEAN -5: Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia. Se as empresas nacionais querem mercados com perspectiva de crescimento têm de ir para estes países, mas não podes descurar que as oportunidades aqui estão associadas ao aumento do risco. Neste âmbito, os empresários têm de selecionar parceiros de negócio de forma criteriosa, tendo sempre em conta que lá existem sistemas legislativos muito diferentes e culturas muito enraizadas”.
“Se as empresas portuguesas querem trabalhar em mercados mais confortáveis a outra opção são os países emergentes do Leste europeu (Albânia, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, Hungria, Kosovo, Macedónia, Montenegro, Polónia, Roménia, Sérvia e Turquia) ou a Irlanda pelo seu potencial crescimento. Nestes países, prevê-se um aumento do investimento nos próximos anos, embora menor do que nos países da Ásia referidos”, acrescenta.
“Estes são os mercados mais interessantes para as empresas portuguesas, que têm essencialmente de diversificar o risco”, reforça João Duque.
Em Portugal, o economista destacou ainda o sector da saúde com um dos que vai registar um grande investimento e identifica algumas oportunidades para as empresas da área da construção no que respeita à criação de infra-estruturas hospitalares. No entanto, salientou que o mercado interno, de uma forma global, não vai ser atractivo nos próximos anos.
O economista finalizou deixando um conselho aos empresários presentes e que tem a ver com a necessidade do aumento da eficiência, sem esquecer o investimento nas pessoas. Além disso reforçou que é necessário apostar na investigação, juntamente com universidades.