São cada vez mais os proprietários que estão as vender as ilhas a investidores interessados em reabilitá-las para venda final ou para colocar no mercado do arrendamento turístico ou para estudantes. Contudo, as reconstruções que estão a ser feitas em muitas destas ilhas é que, tudo indica, não está a obedecer a critérios de qualidade.
Tendo em conta as características e a sua localização – as ilhas são caracterizadas por uma ou duas filas de casas, encostadas normalmente às paredes de outras casas de maiores dimensões ou, em alguns casos, a outra fila de ilhas -, seria necessário que a sua renovação tivesse em atenção aspectos como a humidade das paredes e tectos, a ventilação e a sua iluminação. António Jorge Cerejeira Fontes, da Cerejeira Fontes Arquitectos – gabinete responsável pelo projecto de reabilitação das casas da Ilha da Belavista - confirma esta realidade, destacando que esta situação está acontecer porque estes projectos estão a ser executados sem o acompanhamento de especialistas nestas matérias. “A intervenção nestes projectos deveria ser muito assertiva, procurando identificar as patologias e resolvê-las”, destaca.
Tendo em conta que as casas características de ilha têm, em média, 5,5 metros de largura, por 30 m de cumprimento, com uma porta e uma pequena janela, a intervenção a realizar terá de melhorar estas condições, já que de outra forma o resultado será uma futura casa com humidades nas paredes, e continuará a ser escura e onde não entra o sol.
A solução passa, assim, por abrir janelas maiores e criar mecanismos que permitissem a ventilação das casas. Situação que comprovamos não está a acontecer em algumas das reconstruções de ilhas que visitámos.
António Fontes destaca que esta situação só será resolvida com algumas “novidades” que foram introduzidas, por exemplo, na reabilitação da Ilha da Bela Vista, uma das poucas ilhas municipais, cuja reconstrução se encontra em fase final e que teve a intervenção da Lahb e da Imago- Atelier de Engenharia e Arquitectura, Lda/Cerejeira Fontes Arquitectos. É o caso da utilização de um saguão – uma abertura envidraçada nas traseiras dos edifícios, – que permite a entrada de luz e, desta forma reduz a humidade, tendo em conta que a parede interior não está em contacto com as paredes exteriores.
No mercado a situação é conhecida e há profissionais que estão preocupados. É o caso da associação das empresas de construção – AICCOPN. Reis Campos destaca que “os particulares têm de recorrer a empresas qualificadas, que dão as necessárias garantias de que as intervenções são feitas de modo correcto e, por vezes, não o fazem por mero desconhecimento”.
Esta preocupação está também na base da realização de um seminário: ‘Como reabilitar as Ilhas na cidade do Porto’, a realizar no dia 17 de Junho, e que vai destacar o bom exemplo da reabilitação que está a ser seguida na Bela Vista.
A reabilitação das ilhas do Porto vai ser um tema que vai animar a campanha eleitoral no Porto. No último fim-de-semana, a CDU do Porto, liderada por Ilda Figueiredo, candidata à câmara, revelou que está a “trabalhar num projecto para a reabilitação das cerca de 900 ilhas da cidade, defendendo uma intervenção tripartida entre a câmara, o Estado e os privados, mantendo as rendas sociais”.
Em declarações à Lusa, Ilda Figueiredo, explicou que o programa, “em preparação”, defende a “utilização de fundos comunitários” e pretende dar um contributo para a recuperação das “cerca de quatro mil casas de ilhas”. Ilda Figueiredo foi visitar a ilha municipal da Bela Vista, praticamente reabilitada, apontando-a como exemplo de que “é possível reabilitar aquelas habitações, recuperando também a cidade e ajudando a resolver o problema da habitação social num concelho onde mil famílias estão inscritas para obter uma casa camarária”.
Elisabete Soares
Foto: Por Manuel de Sousa - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3014543