Esta afirmação foi proferida por Eric van Leuven, Managing Partner da consultora Cushman & Wakefield, durante a apresentação do balanço de 2016 e perspectivas para 2017 do mercado imobiliário em Portugal.
Na base desta frase está o facto de existir em pipeline muitas operações que deveriam ter sido fechadas em 2016 mas que transitaram para 2017 e que, muito provavelmente, vão ser concretizadas já no mês de Janeiro.
No balanço de 2016, Eric van Leuven salientou que “foi um ano muito positivo para nós e para o mercado nos vários sectores”.
Apesar de Marta Costa, Head of Research da consultora, fazer a ressalva para o facto de no mercado ocupacional de escritórios, o “ano não foi tão bom quanto 2015”, já que, entre Janeiro e Novembro de 2016, “foram transaccionados 117.000 m2 de escritórios na Grande Lisboa, valor ligeiramente abaixo do verificado em 2015”, a consultora estima que o ano feche com “uma área total procurada na ordem dos 130 mil m2”, ou seja, “em linha com a média dos últimos 10 anos”.
A ocupação da Torre G das Torres de Lisboa, pela Manpower, com 7.900m2, foi o maior negócio de 2016; tendo a segunda maior operação do ano ocorrido no Corredor Oeste, pela Nokia no edifício Elevo (5.900m2).
Refira-se que apenas 63.000m2 de novos espaços estão previstos para os próximos dois anos, sendo que mais de metade já tem ocupação garantida, o que coloca na mesa a questão da escassez cada vez maior de oferta de produto de qualidade.
De acordo com Eric van Leuven, esta falta de espaços de escritórios prende-se com “a falta de investimento na construção, rendas baixas e falta de terrenos”.
Muito dinâmico esteve o segmento de retalho que “apresenta uma tendência de crescimento”, segundo Marta Costa. Se em 2015 concretizaram-se 300 operações correspondentes a uma área de cerca de 160.000 m2; em 2016 esses valores aumentaram para cerca de 450 negócios e uma área que terá ultrapassado os 190.000 m2.
Neste segmento há a assinalar “o crescimento da área de restauração, de novos conceitos de restauração” que é uma “tendência que se verifica não só em Portugal, devido ao turismo em Lisboa e no Porto, mas também a nível internacional”, explica Marta Costa. Acrescentando ainda que os “centros comerciais estão a apostar em novos conceitos de restauração” de forma a “oferecer uma experiência de compra diferenciadora”, de que é exemplo o Cascais Kitchen do CascaiShopping.
Previsto para 2017 está o Mar Shopping Algarve e o Évora Shopping; e para o futuro, com um horizonte até 2019, está a expansão do NorteShopping, do Oeiras Parque e do Centro Colombo.
O mercado industrial foi a excepção neste cenário de dinamismo, embora, como Marta Costa esclarece, “tem vindo a crescer mas em termos de ocupação não se tem conseguido comprovar isso”. Ainda assim, há a assinalar a ocupação de uma nave de logística em Loures, cujos 28.000 m2 revelam que este foi “um dos maiores negócios de todos os tempos no sector”, a par do negócio de compra dos terrenos da Plataforma Logística Lisboa Norte por parte da Merlin Proporties (Socimi espanhola) na ordem dos 90 milhões de euros.
No que diz respeito ao investimento em imobiliário comercial registou-se um valor aproximado dos 1.300 milhões de euros, assinalando uma quebra face a 2015. Eric van Leuven considerou que não se tratou tanto de uma quebra, mas antes “atrasos” pelo facto de muitas transacções terem transitado de 2016 para 2017, a par do “Brexit, em que alguns investidores não se retiraram mas fizeram uma pausa” nos investimentos.
Os investidores estrangeiros mantêm uma forte actividade no mercado, tendo sido responsáveis por 82% do volume, mas os “fundos de investimento nacionais recuperaram”.
O sector de escritórios foi que obteve a maior fatia de capital ao ultrapassar os 600 milhões de euros, “atingindo com este valor um máximo histórico - nunca se investiu um volume tão elevado em activos de escritórios em Portugal”, realça a consultora. A operação do Campus da Justiça, no Parque das Nações, a venda do Edifício NOS e da Torre A das Torres de Lisboa foram as mais significativas no sector.
O mercado de retalho manteve também a sua grande atractividade, num total de mais de 500 milhões de euros negociados, sendo a CBRE GIP responsável pela maior operação do ano com a compra do AlgarveShopping e Estação Viana ao Fundo Sierra.
A reabilitação urbana mostrou-se igualmente atractiva para investidores nacionais e estrangeiros, sendo conhecidos cerca de 30 negócios cujo valor acumulado ultrapassou os 480 milhões de euros. Esta amostra regista um valor médio de transacção por metro quadrado de aproximadamente 1.700 euros.
Relativamente a valores de mercado, os escritórios da Grande Lisboa registaram uma subida no valor da renda prime, passando para os 19€/m2/mês; no sector de retalho também se verificaram valorizações significativas, os centros comerciais alcançaram uma renda prime de 95 €/m2/mês e o comércio de rua nas principais localizações de Lisboa e Porto, chegaram aos 105€/m2/mês e 55 €/m2/mês respectivamente.
As taxas de rentabilidade dos activos reflectiram também a valorização do sector imobiliário, com compressões significativas ao longo dos últimos 12 meses. No fecho do ano as yields prime do mercado imobiliário situam-se nos 4,90% para escritórios, 5% para centros comerciais, 4,75% para comércio de rua e 6,50% para industrial.
Na antevisão para 2017, Eric van Leuven considera que “a actividade de investimento deverá ultrapassar os níveis de 2016, podendo mesmo chegar a um novo recorde histórico, tendo em conta o vasto conjunto de operações que se encontram em fase avançada de negociações, bem como alguns portfólios prestes a entrar para o mercado e com possibilidade de serem fechados ao longo de 2017”.
Aos projectos da Torre da Fontes Pereira de Melo e de Braço de Prata, já em curso, poderão surgir outros como é o caso da 3ª Torre do Colombo, Metropolis, Alcântara ou Feira Popular, que poderão vir a dinamizar o imobiliário nacional. Em Lisboa, “a zona ribeirinha irá continuar a aumentar a sua atractividade, especialmente logo que concretizadas as ocupações de escritórios esperadas para a zona de Santos”; enquanto no Porto, “espera-se um crescimento muito significativo para o sector de escritórios, bem como em retalho de rua, com as zonas da ribeira e a Avenida dos Aliados a demonstrarem um maior potencial”.
“Quanto à actividade da Cushman & Wakefield, obtivemos um novo melhor resultado de sempre, com um aumento de facturação de cerca de 6%. Os departamentos com melhores performances foram o investimento, retalho, avaliações e gestão de projectos”, conclui Eric van Leuven.