O estudo ‘Economia Portuguesa: duas décadas de transformação. Um novo modelo de crescimento assente nas exportações’  foi apresentado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, numa iniciativa dedicada à Internacionalização que assinala o 70º aniversário da Iberinform e o 20º da seguradora de créditos Crédito y Caución em Portugal.

A apresentação contou com as presenças de Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, António Monteiro, CEO da Iberinform Portugal, e de um painel de oradores que debateu as principais tendências e cenários a considerar na alavancagem das exportações nacionais.

Jorge Costa Oliveira, secretário de Estado da Internacionalização, referiu a propósito: “Para que a reflexão sobre esta matéria (internacionalização) possa ser feita de forma séria, é importante que haja contributos de qualidade e o estudo que será apresentado neste evento é um excelente ponto de partida”.

Perante a evolução favorável das exportações nacionais, com “um aumento de 17,1% em Março de 2017 face ao período homólogo do ano passado e de 18,7% em relação a Fevereiro deste ano”, segundo dados divulgados pelo secretário de Estado da Internacionalização, este responsável salienta: “O que é importante é manter o rumo e não esquecer que uma parte muito significativa do nosso crescimento económico vai continuar a variar na razão directa do aumento das exportações”. Defendendo que “todos os mecanismos que temos e que possamos criar” devem ter em conta “um crescimento sustentado das exportações” e devem ter consciência que “melhorar e solidificar a forma como as empresas portuguesas se internacionalizam vai continuar a ter um efeito muito directo, um impacto muito claro, na economia nacional”.

De acordo com António Monteiro, CEO da Iberinform em Portugal, “a divulgação deste estudo pretende demonstrar a evolução vivida, especialmente no sector exportador, e lançar o debate sobre a crescente importância da internacionalização das nossas empresas para o sucesso económico do País e para a dinamização do tecido empresarial nacional. O mercado externo é, de facto, uma oportunidade crescente e estamos aqui para ajudar as nossas empresas a dar esse passo com segurança”.

Paulo Morais, director da seguradora de créditos Crédito y Caución em Portugal e no Brasil e presidente do Conselho de Administração da Iberinform Portugal, acrescenta: “Não é possível crescer sem estar exposto a diferentes tipos de ameaças. O nosso propósito é apoiar as empresas em cada passo, mitigando ou eliminando riscos. Em Portugal, neste momento, estamos a dar cobertura a operações de empresas exportadoras nacionais em 130 países, garantindo a boa cobrança das vendas. É um contributo baseado no compromisso de acompanhar os clientes para onde quer que eles vão”.

Com a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, a economia nacional aumentou fortemente o seu grau de abertura ao exterior, e as exportações passaram a ser determinantes para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2016, as exportações foram responsáveis por 1,2% do crescimento do PIB em volume (79,6%), com a procura interna a contribuir com apenas 0,3% (20,4%). Este é um cenário diametralmente oposto ao que se vivia na economia portuguesa há duas décadas, quando a procura interna representava 76,1% do crescimento do PIB e as exportações 23,9%. De acordo com as previsões para a economia portuguesa do Plano de Estabilidade e Crescimento 2017/2021, com um crescimento real previsto de 4,5% por ano das exportações e um crescimento crescente de 1,8%, 1,9%, 2%, 2,1% e 2,2% do PIB, em 2021 prevê-se que as exportações ultrapassem a metade do PIB (50,2%).

As exportações de serviços têm vindo a ter uma influência cada vez maior no crescimento das exportações nacionais, com destaque para o Turismo. Os serviços passaram de 21,8% do total em 1995, para 28,4% em 2016. Quanto às exportações de bens, o estudo hoje apresentado salienta o seu aumento e uma maior diversificação ao longo das duas últimas décadas, com o aumento do peso relativo de produtos que tinham menor expressão e com a quebra de produtos que tinham um maior peso como, por exemplo, os plásticos e borracha (de 2,6% para 7,5%), os produtos agrícolas (3,1% para 6,6%), que em conjunto com os alimentares passam de 7,5% para 11,8%, ou os veículos e outro material de transporte passam de 9,7% em 1995, para 15,4% em 1996 e para 11,3% em 2016.

Em termos de evolução de mercados, o estudo sublinha o forte aumento do peso de Espanha. O mercado vizinho evolui de 4,1% em 1985, para 15,7% em 1995, para alcançar os 26,2% em 2016. Os mercados da Alemanha e de França também aumentam o seu peso com a adesão à CEE, passando de 13,7% e 12,7% respectivamente, em 1985, para 21,3% e 14,1% em 1995, com quebra posterior para 11,6% e 12,6% respectivamente, em 2016. Com a adesão à EU dos países da Europa de Leste, as empresas portuguesas realizam o seu potencial e fazem aumentar o peso da latina Roménia para 0,8%, da Hungria (0,4%) e das eslavas Polónia (1,1%), República Checa (0,6%) e Eslováquia (0,4%). De salientar, ainda, os mercados do Norte de África – Marrocos (1,4%), Argélia (0,9%) e Tunísia (0,4%). A China também aumenta de 0,1% em 1995 para 1,3% em 2016.

Segundo a análise do estudo da Iberinform, as pequenas e média empresas perderam peso nas exportações nacionais durante as últimas duas décadas, decrescendo substancialmente de um valor conjunto de quase 62%, para uns modestos 12,9%. Hoje são as micro-empresas que suportam o novo modelo de crescimento da economia portuguesa assente nas exportações.

Em 2015, esta tipologia de empresas representou quase 87% do total das empresas exportadoras nacionais, quando há duas décadas não ascendia a 37%.

No total das empresas exportadoras, a análise revela que as exportadoras recentes (constituídas entre 2010 e 2015) são as que apresentam menor Risco de incumprimento (avaliado pelo Score Iberinform), bem como uma menor incidência de dissoluções (10,5% versus 15,2%), de insolvências e cessões de actividade (2,1% versus 8,7%).

Entre outras caraterísticas sintetizada no trabalho, as novas empresas exportadoras nacionais têm um maior peso de empresas de elevado crescimento (4,8% versus 0,9% em 2015, superior aos 4,5% versus 0,4% em 1996), com uma maior taxa de exportação e uma menor dependência do mercado interno (35,1% versus 24,3%, superior aos 26,1% versus 15,1% em 1996). São empresas com uma maior produtividade (1,71€ versus 1,66€, inferior a 1996) e menor risco financeiro (menor absorção de valor económico por juros e outros custos de financiamento, maior cobertura e menor peso do endividamento remunerado, maior autonomia financeira). As novas empresas exportadora apresentam, ainda, uma maior rendibilidade financeira (10,3% versus 6,6%, superior a 1995).

Foto: Anabela Loureiro