A Cushman & Wakefield apresentou o ‘Marketbeat Julho 2017’ que confirma a escassez de oferta ao nível dos sectores de Escritórios e Industrial/Logística e o bom momento que o Residencial e a Hotelaria atravessam. Tudo leva a crer que 2017 terá um valor final “acima da média da última década”. Ainda assim, as “polémicas” em torno do NRAU vêm ‘assombrar’ este cenário positivo.

A Cushman & Wakefield perspectiva que a valorização dos activos imobiliários se mantenha em 2017, tendência que poderá evidenciar-se nos próximos dois anos.

Os dados avançados no Marketbeat demonstram que o montante investido este ano é “ligeiramente superior” ao de 2016. Ainda assim, trata-se de um valor que está “acima da média da última década”.

Em curso encontram-se operações que ultrapassam os 3.500 milhões de euros, dos quais cerca de 1.500 milhões de euros deverão concretizar-se até ao final do ano. A confirmar-se este cenário, Andreia Almeida, do departamento de Research & Consultoria, afirma que 2017 será o ano “com maior volume de investimento na história do mercado imobiliário em Portugal”.

O mesmo documento dá conta que, no primeiro semestre do ano, 91% do volume transaccionado ficou a dever-se a capital estrangeiro, que existiu uma “maior apetência ao risco” por parte dos investidores e que denotou-se também uma maior procura por activos de escritórios e retalho.

No que diz respeito aos escritórios verificou-se um primeiro semestre muito activo, pelo que Andreia Almeida considerou que este é um “mercado sólido”. Em 2017, existiu um aumento da procura líquida nos escritórios, em que 33% das transacções do primeiro semestre corresponderam a expansões ou novas empresas em Lisboa e onde dominaram os centros de serviços partilhados.

O Marketbeat destaca também a cidade do Porto onde surgiu uma procura mais acentuada por espaços de escritórios impulsionando novos projectos de promoção que, como o director-geral da consultora, Eric van Leuven, lembrou, era “algo que não existia há quase 10 anos”.

Para o horizonte 2018/2019 encontram-se em pipeline os projectos da terceira torre do Colombo, da Jerónimo Martins na Praça de Espanha e dos terrenos da futura Feira Popular. Em stand-by continuam os lotes na zona Oriental de Lisboa.

Mas este é um segmento onde continua a verificar-se a falta de oferta, “quer em termos de qualidade, quer de dimensão”, quer pelo facto de a oferta que poderá chegar em breve ao mercado “70% está já ocupada” com contratos de pré-arrendamento, explica Andreia Almeida. Com isso, Eric van Leuven afirma categoricamente que poderá perder-se “investimentos internacionais”.

Já no que concerne ao retalho, verificou-se “uma evolução positiva do sector mas mais moderada” e que, segundo Andreia Almeida, “surpreende pela negativa” uma vez que era “esperado um crescimento mais elevado” derivado da “redução da sobretaxa do IRS”, mas que, muito provavelmente, acabou por ser influenciada pela “subida da inflacção”.

Neste segmento há a destacar o “impacto do Turismo no comércio de rua”, sendo que Lisboa e Porto foram responsáveis por “97% das operações” e onde a “moda teve um maior peso”. Lisboa continua a ‘velocidade cruzeiro’, enquanto no Porto há a fazer a ressalva para o crescimento das zonas dos Clérigos, Ribeira e Aliados.

À semelhança dos Escritórios, também no sector Industrial e Logística continua a escassez de oferta de qualidade. Segundo Andreia Almeida, a “pressão da procura poderá levar à subida dos valores” a curto prazo. Merece ainda a nota o facto de as “exportações estarem em crescimento” e serem “superiores às importações”, algo que “é muito importante para este sector”.

O Marketbeat focou ainda o sector da Hotelaria, ficando-se a saber que só nos primeiros seis meses do ano abriram 20 novas unidades hoteleiras, sendo expectável a manutenção deste crescimento até 2019 onde são esperadas 82 novos hotéis.

Presente no evento esteve também o director-geral da Porta da Frente | Christie's, Rafael Ascenso, que avançou que se “mantém a intensa actividade” no sector residencial, a par de um “equilíbrio entre a oferta e a procura em Lisboa”. Só para se ter uma noção desta realidade, no segundo trimestre a Porta da Frente | Christie's “mais que dobrámos as transacções”.

Entre as novidades, realçou, na capital, a “alteração no interesse da procura”, que até agora estava mais direccionada para “zonas prime” e que passou para as “zonas tradicionais”, quer por parte dos estrangeiros, quer das famílias portuguesas que “estão a voltar ao centro de Lisboa”. Outra das novidades prendeu-se com a “procura crescente” por Oeiras, um “mercado intermediário” que “está a começar a ser descoberto por estrangeiros”, uma vez que o “preço/m2 é mais baixo que em Lisboa”.

Rafael Ascenso avançou ainda que existem “muitos projectos a serem lançados nos próximos tempos em Lisboa e Cascais e com alguma dimensão”, que vai, com certeza, dinamizar o mercado residencial.

Em cima da mesa esteve ainda a publicação das duas leis que alteram a revisão do Novo Regime do Arrendamento Urbano (NRAU), em Julho deste ano, ou seja, a ampliação do período transitório de passagem dos contratos sujeitos a condição especial para o NRAU e a definição de critérios para a atribuição do estatuto das lojas históricas e respectivos benefícios.

Ambas as alterações, segundo Eric van Leuven, vieram trazer “instabilidade legal e fiscal”, uma vez que Portugal “estava no bom caminho”.

“Não sei se uma certa maldade ou ingenuidade por parte do anterior Governo”, que considerou que a questão dos idosos e das pessoas com carência financeira se “resolvesse” por si só, “este assunto ficou para este Governo”, comentou.

 

Reconhecendo que se trata de uma questão “sensível”, não deixou de enfatizar que “não se pode esperar que os privados prestem serviços sociais” e que estas medidas “penalizam o mercado e a sua imagem”.

 

Na sua opinião, no caso particular da lei das lojas históricas pode constituir mesmo um entrave ao negócio imobiliário; aliás, como avançou, a Cushman & Wakefield enfrentou o “caso de edifícios que estavam prometidos para venda e acabaram por não ser vendidos por causa disto”.

 

Ainda assim, Eric van Leuven destacou os “cinco anos de convivência com uma lei que permitiu a reabilitação e a modernização da cidade (Lisboa)” e que as novas alterações não vão conduzir a “retrocessos” nos negócios já efectivados.