O Crowdfunding está a dar os primeiros passos em Portugal. De acordo com o secretário-geral da APPII – Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, Hugo Santos Ferreira, a ser uma realidade, as plataformas terão de ter uma gestão profissional, track record e oferecer elevadas taxas de rentabilidade.

‘Crowdfunding Imobiliário, Uma Realidade?’ é o workshop que a APPII vai desenvolver no dia 7 de Setembro, no salão nobre do ISEG - Lisbon School of Economics & Management. Temáticas como ‘Crowdfunding Imobiliário, Análise Regulatória e Jurídica’, ‘Crowdfunding Imobiliário, Aspectos Fiscais’, ‘A Visão do Regulador’ e ‘Case Studies em Portugal e no Mundo’ estarão em debate e esclarecimento.

O evento tem como parceiros o ISEG, a Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados e a CMVM (a confirmar) e conta com especialistas nacionais e internacionais, como seja Fernando Santo, presidente da Assembleia Geral da APPII e administrador executivo da Caixa Económica Montepio Geral, João Carvalho das Neves do ISEG e representantes da Seeders e Housers ligadas ao equity crowdfunding e ao crowdfunding imobiliário espanhol.

O secretário-geral da APPII adiantou à Magazine Imobiliário que “este será o primeiro evento sobre crowdfunding imobiliário em Portugal”. Desta forma, a APPII surge, uma vez mais e “sempre, na vanguarda”.

“Estando a associação ligada aos promotores e aos investidores este é um tema que nos diz muito, já que fala de financiamento ao imobiliário e à construção” e “isto a somar ao facto de ser o ano de confirmação do elevado investimento estrangeiro no imobiliário português, tonar-se uma temática ainda mais interessante”, explica Hugo Santos Ferreira.

Conforme esclarece, “o Crowdfunding e o investimento estrangeiro têm duas similitudes que se prendem com o financiamento ao imobiliário e à construção”; no entanto, o facto do tema deste workshop colocar um “ponto de interrogação” – Crowdfunding Imobiliário, Uma Realidade? – deve-se ao facto de “não sabermos se já é uma realidade em Portugal”.

O que se passa é que a associação tem sido contactada por diversos players, nomeadamente pelos investidores, promotores imobiliários e até os próprios bancos, sobre esta temática e verificou que existiam “muitas dúvidas”: “Existe não existe”, “como posso concorrer”, “como posso criar uma plataforma de crowdfunding”, “como posso aceder a essa plataforma para promover os meus projectos, para financiar um projecto ou para investir nesses projectos”… Foi com base em todas estas questões que a APPII tomou a decisão de organizar este workshop.

Embora deixe a resposta para os juristas convidados da Morais Leitão, Hugo Santos Ferreira considera que “já existem algumas plataformas de investimento colectivo mas o crowdfunding em si está ainda num ‘limbo’ em Portugal à espera de regulamentação e este workshop poderá também servir para desbloquear algumas situações e ajudar a compreender este conceito que vai contribuir para financiar projectos imobiliários”.

Acrescenta igualmente que a associação tem sido “adepta da criação de novas formas de captação de investimento, desde que sejam atractivas, competitivas a nível europeu e mundial, nomeadamente com os nossos concorrentes directos e que beneficiem o mercado e Portugal, pelo que o crowdfunding não é excepção”.

Aliás, recorde-se, a APPII tem sido uma grande defensora das SIPIs - Sociedades de Investimento em Património Imobiliário (ou REITs - Real Estate Investment Trust) que acabam por ter a mesma filosofia do Crowndfundig, ou seja, são veículos de investimento colectivo e que já são um sucesso quer nos Estados Unidos da América, quer, a título mais próximo, em Espanha onde através dos REITs o país vizinho arrecadou um total 10 mil milhões de euros.

Como o secretário-geral da associação salienta: “Se temos veículos tão interessantes aqui ao lado, em Espanha, temos de os estudar para os implementar em Portugal; aliás, estamos a apresentar propostas concretas ao Governo para a implementação dos REITs no nosso País”.

Neste cenário, afirma, que se “a par dos REITs, o Crowdfunding for interessante seremos igualmente defensores desse veículo”, no entanto, confessa que este novo veículo pode “levantar algumas dúvidas quer por parte do investidor que vai investir, quer por parte do promotor imobiliário que vai a ele recorrer”.

Do lado do investidor a dúvida que se levanta é se o Crowdfundig “tem uma gestão profissional e com track record”, pois caso não a tenha “duvido muito que o investidor vá confiar o seu dinheiro, ainda mais grandes quantias, nessa plataforma”. No entanto, Hugo Santos Ferreira vê este novo veículo de uma forma “positiva” para os pequenos investidores, uma vez que “lhes permite investir em grandes projectos”.

Mas a questão crucial para os investidores prende-se com as rentabilidades e neste ponto o representante da APPII considera que, “como nos últimos anos, as pessoas ficaram desacreditadas com o sistema financeiro e as suas atenções viraram-se para o imobiliário que apresenta yields superiores às que a banca actualmente dá, por isso, o crowdfunding tem de dar rendimentos muito acima destes de forma a atrair o investidor a arriscar neste novo veículo”.

Do lado dos promotores, de quem pode aceder à plataforma para ir buscar financiamento, as dificuldades serão, no fundo, as mesmas: “Só vai entregar o seu projecto a uma gestão profissional, com know-how e com track record e a um veículo que seja mais atractivo que a banca, até porque hoje a banca já começa a dar um maior financiamento, inclusivamente à construção”.

“O crowdfunding é uma novidade para todos nós”, pelo que “este workshop servirá para dissipar as maiores dúvidas sobre esta nova plataforma em Portugal”, conclui Hugo Santos Ferreira.

Foto: Anabela Loureiro