O director Executivo da Invest Lisboa, Rui Coelho, defende o investimento quer no turismo/hotelaria, quer na reabilitação. Com isso, acredita, Lisboa gerou economia, criou postos de trabalho, aumentou a segurança e a beleza da cidade.

Nos últimos anos temos assistido a um aumento do investimento em novas unidades hoteleiras em Lisboa. Na sua opinião, ainda há espaço para que o parque hoteleiro cresça na cidade ou já está perto do seu limite?

Estamos a falar de uma realidade dinâmica, a oferta hoteleira tem aumentado mas a procura também tem aumentado - espectaculares crescimentos de 15 e 14% nos dois últimos anos - e o REVPAR (rendimento por quarto), talvez o indicador mais importante, também tem aumentado. Por outro lado os estudos internacionais indicam que a tendência será para o aumento do turismo a nível mundial. Note-se também que muitos dos hotéis que têm surgido são de pequena dimensão – hotéis de charme – via reabilitação de imóveis na zona histórica de Lisboa. Mais importante que a minha opinião é a opinião dos que investem o seu capital na criação de novos hotéis, se eles acreditam que haverá procura para ocupar novos hotéis quem sou eu para duvidar. 

O turismo veio impulsionar também a reabilitação de edifícios, uma vez que o retorno económico é mais rápido e talvez maior na hotelaria do que na habitação. Considera que este é um investimento que vai continuar nos próximos anos?

Um dos mais importantes efeitos do crescimento do turismo foi o enorme impacto na reabilitação urbana de Lisboa, seja através de novas unidades hoteleiras, hostels, apartamentos turísticos, mas também de novas lojas e restaurantes. Considero que a reabilitação tem um duplo impacto, além do investimento e criação de emprego, por si só extremamente importantes, no aumento da segurança e beleza da cidade. Não acredito que o retorno económico seja mais rápido na hotelaria do que na habitação, especialmente se esta for para venda. Voltam a existir projectos em que todos os apartamentos estão vendidos em planta, não havendo retorno mais rápido do que esse. Acredito que o investimento na reabilitação vai continuar pois Lisboa está com uma enorme capacidade de captar investimentos, turistas e talentos e há localizações estratégicas e centrais na cidade que ainda têm muitos imóveis por reabilitar. Devemos procurar aproveitar este grande movimento de reabilitação pois ainda há muitos imóveis para reabilitar em Lisboa e é impossível saber até quando este momento positivo se vai manter.

Há quem defenda que, dentro de poucos anos, vão ser muitos os hotéis a fechar portas ou a ficar nas mãos dos bancos. Como encara esta possibilidade?

Sempre houve ‘Velhos do Restelo’ que nos avisaram das más consequências do empreendedorismo, do investimento em novos negócios ou simplesmente de fazer qualquer coisa… Todos os negócios implicam riscos e certamente alguns vão falhar, não deve haver nenhum drama por isso acontecer e no limite os imóveis devem ser reconvertidos para outras utilizações – residências para estudantes, residências para idosos, etc.. Antes deve ser louvada a capacidade de empreender mesmo quando não tenha sucesso. O que não podemos aceitar de forma nenhuma é qualquer tipo de desonestidade nesses processos. Nem desonestidades mascaradas de incompetência, nem tão pouco incompetências flagrantes, dos tipos das que assistimos recentemente com os prejuízos a serem do público e os lucros dos privados. Isso para além de imoral e injusto destrói o sistema de valores da nossa sociedade. Devendo ser fortemente penalizado para ter efeito dissuasor. Também já defendi publicamente que, havendo investidores privados interessados em investir os seus meios próprios, não deve haver apoios e incentivos públicos à construção e novos hotéis. Devendo esses meios ser canalizados para outras áreas que, sendo importantes para o nosso desenvolvimento, não encontram interessados privados em investir. É também necessário perceber que a hotelaria é um sector cada vez mais sofisticado, com cada vez maior concorrência, e que para ter sucesso é preciso conhecimento e experiência no sector. Aquilo a que assistimos num passado recente de empresas de construção civil a investirem na construção de hotéis e até cadeias hoteleiras teve, em muitos casos, péssimos resultados.

Na sua opinião, quando é que se sabe que se deve travar a construção e/ou reabilitação de edifícios para novas unidades hoteleiras?

Devem ser travados quando os impactos negativos desses investimentos sejam superiores aos seus impactos positivos – criação de empregos e riqueza, e reabilitação do parque edificado. Trata-se de algo muito complexo pois há que ter em conta que uma limitação desta natureza tem também um impacto negativo na concorrência – ao proibir novos estabelecimentos estamos a proteger os antigos (em qualquer sector), não necessariamente melhores – o que pode levar a menor qualidade de serviço, preços mais caros e desincentivo à inovação. Por outro lado acredito que o papel do Estado é fundamental pois o mercado nem sempre leva aos melhores resultados. Admito que se estabeleça um número limite para os hotéis (ou camas) numa determinada zona da cidade quando se corre o risco de a mesma ficar sobrecarregada (e descaracterizada) com esse tipo de estabelecimentos. Lisboa e Portugal têm uma especial vocação para o turismo e isso deve ser devidamente aproveitado. O que não quer dizer que nos devemos tornar um país ou região monocultura o que será sempre perigoso. Devemos procurar isso sim o aumento da rentabilidade (dos preços) e a diminuição dos impactos negativos.

Entrevista: Carla Celestino

Foto: Anabela Loureiro