O cenógrafo francês Jean-Guy Lecat vem a Portugal em Julho para orientar um Workshop em torno das intersecções entre a arquitectura e a cenografia, no âmbito do 32º Festival de Almada. A decorrer de 14 a 16 de Julho.
O workshop, uma parceria entre a OASRS e o Festival de Almada, oferece uma oportunidade rara de compreender de que são feitas as relações entre arquitectos e cenógrafos e porque é que “da totalidade dos teatros construídos nos últimos 20 anos no mundo, poucos são bem conseguidos ou assinaláveis”.
Lecat explica o que podem encontrar os arquitectos que se inscrevam no workshop: “Vamos trabalhar sobre como fazer um teatro do século XXI contrariando o teatro que os arquitectos em geral constroem”. E vão fazê-lo, acrescenta, "explorando as economias possíveis em termos financeiros, energético, dos materiais, do espaço”. Finalmente, o workshop vai servir para “discutir como imaginar um teatro muito simples para as pequenas cidades ou povoações”.
A ideia de simplicidade atravessa, de resto, quase todo o discurso de Lecat, que começou por trabalhar como desenhador industrial numa fábrica onde, afirma, “se aborrecia” de tal forma que se despediu. Envolveu-se de seguida num Festival em Paris, contratado para fazer pequenas tarefas. Um dia, o arquitecto/cenógrafo Claude Perset estava atrasado para desenhar os cenários do festival. O director pediu a Lecat que ele fosse a casa de Perset para o ajudar. “Fiquei dez anos a trabalhar com ele”, diz. Entre os muitos cenários, teatros e festivais que assinaram em conjunto, conta-se o famoso Théâtre d'Orsay, hoje Théâtre du Rond Point.
Entre 1976 e 2000 trabalhou com o multipremiado director de cinema e de teatro Peter Brook. Desses 25 anos retira uma ilação: “A minha experiência com o Peter Brook foi tentar na medida do possível procurar sempre a simplicidade”.
Lecat não é um desconhecido na arquitectura portuguesa. Trabalhou com Manuel Graça Dias e Egas José Vieira no projecto do Teatro Azul de Almada onde vai ter lugar uma parte do Festival. Dessa experiência recorda “a sorte de trabalhar com arquitectos inteligentes que sabem ouvir. Penso que com pouco dinheiro construímos um espaço com três salas que podem funcionar com uma pequena equipa técnica, um dos requisitos mais importantes. “Este teatro”, conclui “recebe espectáculos com os maiores cenários do mundo sem nenhum problema”.
A forma como Lecat fala dos arquitectos do Teatro Azul subentende uma opinião própria sobre as zonas de tensão entre arquitectos e cenógrafos. “Os arquitectos não consideram os cenógrafos como iguais, mas apenas como especialistas da problemática do cenário do teatro”, adianta. E acrescenta: “Os arquitectos não conhecem nada de teatro e têm sobre o assunto ideias do passado ou tontas que não funcionam. A arquitectura do teatro constrói-se em torno dos seres humanos seguindo as proporções dos seres humanos. Este não é o caso da arquitectura contemporânea em que se pensa que os seres humanos não possuem boas proporções”, ironiza.
Por isso, o Workshop de Cenografia e Arquitectura vai “ajudar os jovens arquitectos a pensar o edifício Teatro de outra forma e deixar de construir segundo o modelo do século XIX”.
A inscrição no Workshop inclui ainda uma visita guiada ao Teatro Azul pelo arquitecto Manuel Graça Dias no dia 18 de Julho; entrada no ciclo de conferências ‘Arquitectura e Teatro: dar lugar ao acontecimento'; um bilhete para a estreia do espectáculo Britânico (dia 14 de Julho) ou para o espectáculo Fúria Avícola (16 de Julho); e acesso à Exposição ‘Cenografia’ organizada pelo arquitecto José Manuel Castanheira.
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