Os últimos cinco anos foram um “verdadeiro drama” para a construção civil e obras públicas portuguesa, a evidenciar quebras na produção superiores a 40%, 46% nos edifícios, 33% na Engenharia Civil e 53% na Habitação. Ainda assim, há que realçar a “história de resistência” das construtoras portuguesas.

Este quadro foi traçado pelo director da Direcção dos Serviços de Economia e Mercados Associação de Empresas de Construção Obras Públicas e Serviços (AECOPS), António Manzoni, aquando do lançamento da Batimat em Portugal.

António Manzoni fez uma breve apresentação do mercado português do sector da construção no qual revelou que os números acima mencionados, se forem projectados até ao momento em que começou a crise económica, “duplicam atingindo quase 80%”. Apesar disso, o director defende que, “de alguma forma, o sector conseguiu resistir a tudo isto”. E explica como: “A produção decresceu em Portugal e as empresas procuraram soluções nos mercados externos e tiveram sucesso”. Acrescentando que “desde 2006 que as empresas a operar no exterior estão a crescer a uma taxa média de 20%”.

Essa procura externa fez-se, numa primeira fase, para os países africanos de língua portuguesa, onde “Portugal representa 27% do total da actividade das empresas europeias de construção em África”; e, agora, numa segunda fase, para a América Latina. A este propósito o director lembrou que estamos perante uma “viragem do discurso da Europa ao nível da importância do investimento (Plano Juncker), em que se vai apostar na energia, nos transportes e nas redes transeuropeias, na gestão das águas e dos resíduos, nas telecomunicações e nas cidades inteligentes” e que se está a virar também para o “continente africano no quadro da globalização”.

A crise veio, pois, trazer uma “reorganização e internacionalização do sector da construção português”, promover novas “oportunidades e desafios para o futuro”, veio comprovar que Portugal “tem recursos humanos, nomeadamente engenheiros associados a obras de relevo” e que existiu “uma grande resiliência da cultura empresarial para responder à crise”.

Se por um lado, António Manzoni considera que existe actualmente um “contexto favorável ao investimento”, por outro, esse investimento existe num quadro em que “as taxas são negativas”, pelo que, na sua opinião, tem de se começar a “pensar na construção num mundo de pernas-para-o-ar”.

Relativamente ao mercado imobiliário, acredita que está a “viver à escala global, sobretudo europeia, um ciclo de crescimento, consequência directa do BCE através da injecção directa que valorizou os activos”.

No caso de Portugal refere mesmo que “está a ser invadido pelo investimento directo estrangeiro”, em que os “investidores estão a comprar e também a começar a esgotar os activos imobiliários numa lógica de compra com perspectiva de valorização” e que vão surgir “novos projectos e modelos de negócio, como é o caso dos Fundos de Investimento Imobiliário”.

Apesar dos bons augúrios, António Manzoni não deixou de lembrar que, “em 2001, construíam-se 100 mil casas e que, agora, só se constroem oito mil casas”.

Foto: Anabela Loureiro