Depois de ter sido anunciado que o Festival Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, ia mudar de localização por que no mesmo espaço vão ser construídos prédios de habitação, comércio e serviços, eis que surge uma petição pública que “apela ao bom senso das entidades competentes”.

Parte do espaço que vai desde o passeio localizado na frente fluvial de Canidelo, em Vila Nova de Gaia, e que passa pela Afurada até ao Cabedelo, vai ser futuramente ocupado por edifícios que podem ir de cinco a nove pisos e que compreendem desde habitação a comércio e serviços. O projecto não é de hoje mas teve luz verde do ex-presidente do município de Gaia, Luís Filipe Menezes. A sociedade Douro Habitat (detida por investidores israelitas), que detém o lote mais próximo do Douro Marina, já comunicou que vai avançar com as obras em 2016. Resta saber se o mesmo se vai passar com os outros quatro prédios de oito/nove pisos que estão equacionados para a frente fluvial.

Face a esta notícia avançada pelo Jornal de Notícias (JN), um grupo de cidadãos criou uma petição púbica que reivindica, conforme consta no texto da petição, “uma reavaliação do referido projecto urbanístico na frente fluvial de Canidelo, Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, onde está actualmente situada a Reserva Natural do Estuário do Douro, onde todos os anos tem acontecido o Festival Marés Vivas e paredes meias com a Douro Marina e a Capela de S. Paio”.

Para estes cidadãos, construir edifícios naqueles terrenos acarretará, entre outros, “a impossibilidade da permanência do festival Marés Vivas naquele local; a impossibilidade dos residentes e não residentes usufruírem da zona pública que ali existe à beira-rio; o cada vez maior tráfego automóvel da região, esta já de si com poucas acessibilidades face ao crescimento populacional; o excesso de fogos habitacionais em Gaia, que já é considerada ‘cidade dormitório’; o risco eminente para as aves da Reserva Natural do Estuário do Douro; a manutenção de uma desorganização urbanística onde querem instalar prédios de sete pisos numa área geográfica onde apenas existem moradias e pequenas habitações, transformando uma zona calma e um espaço cuja envolvente é habitado praticamente pela mãe Natureza, por betão armado e confusão”.

Recorde-se que, após a consulta feita pela Empresa Municipal Gaiurb, em 2012, no parecer a que o JN teve acesso, a Administração dos Portos do Douro e Leixões alerta para a “possibilidade de ocorrência de inundações nos pisos implantados a cotas de nível mais baixas”, exigindo que a obra seja sólida; enquanto a Agência Portuguesa do Ambiente aconselha a adopção de “medidas e sistemas de protecção” em fase de projecto, embora não precise quais são as mesmas. Ambas as entidades deram parecer favorável à construção dos edifícios deixando a decisão de licenciar a obra para a autarquia de Gaia que acabou por acontecer pela mão do ex-presidente da autarquia Luís Filipe de Menezes.

O actual presidente do município de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, tornou pública a sua posição contra estes projectos mas, em declarações ao JN, disse que seriam precisos muitos milhões de euros para evitar a concretização dos mesmos. Perante tal cenário declarou: “Sinto-me um pouco atado de pés e mãos”.

Esta petição pública é dirigida ao Ministério Ambiente, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, e aos demais organismos públicos e privados com poder para o devido efeito, e visa promover o embargo da obra na frente fluvial de Canidelo, em Gaia.

Fonte: JN / Foto: Petição Pública