A consultora Worx mostra como a reabilitação urbana tem vindo a ganhar terreno à construção nova; mas revela também que a construção nova em alguns casos é necessária.
De acordo com a Worx, o aumento generalizado da procura imobiliária nas áreas centrais da cidade, o crescimento do número de turistas e a escassez de oferta qualificada, conjugados com um número significativo de edifícios que se encontram total ou parcialmente devolutos têm conduzido a um número cada vez maior de obras de reabilitação em detrimento de construção nova. Para a consultora, este fenómeno, quando alicerçado num aumento do investimento privado em imobiliário apresenta-se como uma estratégia potencialmente vencedora.
Na Câmara Municipal de Lisboa (CML), entre 2014 e 2015, as licenças de obra que deram entrada são, na sua maioria, intervenções em edificado já existente. É de salientar que mais de 90% do total de licenças destinadas a obras em edifícios são destinadas a habitação. Segundo dados do INE e da CML, desde 2005 que os pedidos de licenciamento de obras novas têm vindo a diminuir. Porém, nas áreas históricas, desde o segundo semestre de 2010 que o número de pedidos tem vindo a aumentar, confirmando o crescente interesse em investimento nestas zonas. Em 2015, 35% do total das licenças emitidas corresponde às freguesias referentes a áreas históricas (Santo António, Santa Maria Maior e Misericórdia).
As zonas históricas da cidade são o palco mais apetecível para projectos de reabilitação, devido à redução da oferta e à elevada procura, principalmente por investidores internacionais. A melhoria da situação económica no País, o aumento do turismo e os incentivos concedidos à reabilitação urbana são alguns dos factores que provocaram um crescente dinamismo na reabilitação de edifícios nas zonas centrais da cidade e um consequente aumento dos preços praticados. Contrariando a tendência do período pré-crise, em que o foco era a reabilitação para escritórios, atualmente verifica-se que na grande maioria dos casos, a reabilitação passa pela reconversão de usos, maioritariamente para habitação e/ou turismo.
No entanto, a dimensão reduzida da oferta imobiliária obriga a uma exaustiva prospecção de activos aptos para reabilitar. Com a acentuada escassez deste tipo de oportunidades, a prospecção é fundamental na procura de soluções. Como tal, a Worx realizou um levantamento exaustivo da Zona 1 (Eixo Avenida da Liberdade / Fontes Pereira de Melo até ao Saldanha). Esta zona contempla mais de 450 edifícios, dos quais 15% encontram-se em mau estado de conservação e cerca de 10% estão devolutos.
Trata-se de uma zona com uma forte concentração de edifícios de escritórios, em que apenas 23% dos mais de 450 edifícios analisados foram construídos para habitação. De ressalvar ainda que dos cerca de 600 mil m² de área de escritórios identificados, cerca de 85.000 m² se encontram por ocupar, sendo que muitos não reúnem ainda as condições necessárias para acolher a procura cada vez mais exigente.
Cristina Cristóvão, do departamento de Research e Consultancy da Worx, conclui que “a reabilitação será sempre um caminho acertado para manter as linhas clássicas nas zonas históricas da cidade. Com o aproveitamento do potencial existente numa das zonas mais cobiçadas de Lisboa a cidade ganha bastante. No entanto, a construção nova em alguns casos é necessária pelos altos índices e especificidade da procura, sendo o caso mais evidente o sector de escritórios e o de retalho”.