A Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção apresentou, no seu 6º Fórum, o recém-criado Cluster AEC - Arquitectura, Engenharia e Construção, a sua estratégia e projectos a desenvolver até 2020, bem como o seu alinhamento com os princípios e conceitos da Indústria 4.0 e da Construção Circular.

O Cluster AEC, apresentado pela Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção – PTPC, foi um dos 20 clusters reconhecidos em Fevereiro último pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral. Em Julho de 2015, a PTPC submeteu uma candidatura para a constituição de um Cluster de Competitividade no sector da construção para o período de 2015 a 2020, reunindo o interesse de cerca de 80 entidades do sector, entre grandes empresas, PME, associações sectoriais e entidades não empresariais do SI&I que, em conjunto, constituíram o grupo inicial de associados do cluster. O Cluster AEC assenta a sua estratégia numa missão e visão que privilegiam a aposta na IDI e na internacionalização como principais motores da competitividade do sector da arquitectura, engenharia e construção, procurando sobretudo fomentar relações e sinergias entre os diversos actores do setor e em toda a cadeia de valor.

De acordo com a presidente do Cluster AEC (em representação da Teixeira Duarte), Rita Moura, “o nosso sector vive actualmente o desafio de se adaptar à construção do futuro, devendo para isso focar-se cada vez mais nos serviços que presta e na integração cada vez mais profunda do digital no seu dia-a-dia”.

A entrega do ‘Prémio Excelência BIM 2017’ foi feita por Aguiar Costa, presidente CT 197, do Instituto Superior Técnico. A CT 197 - BIM é a entidade qualificada pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ) como responsável pela normalização do Building Information Modelling (BIM) e da sua implementação a nível nacional, contando com uma significativa adesão da indústria da construção, representantes de projetistas, construtores e entidades públicas, incluindo grande parte dos membros de Grupo de Trabalho BIM da PTPC que iniciou actividade em 2011. O Prémio Excelência BIM surge, neste contexto, com o objectivo de promover a implementação BIM a nível nacional, uma das missões da PTPC / Cluster AEC e da CT 197, através da disseminação e promoção de boas práticas. O Prémio foi entregue na categoria de Simulação e Projecto ao Gabinete 400 e na categoria de Construção e Coordenação à Teixeira Duarte.

Menno de Jonje, director de Construção Digital do Royal BAM Group (uma conceituada empresa de construção holandesa), falou do panorama actual da indústria da Construção, e mostrou o que de melhor se faz por toda a Europa. Referiu que “6% do PIB global vem da indústria da construção, mas que, por outro lado, cerca de 40% das emissões de CO2 provêm também da indústria da construção”; “contudo, esta indústria consome cerca de 50% dos recursos naturais anuais, pelo que é fundamental a aplicação de uma construção inteligente, alinhada com a economia circular do século XXI – porque apesar dos inúmeros avanços tecnológicos, esta é das áreas de negócio com o menor nível de digitalização”. Acrescentnado que, “com o BIM obtêm-se uma melhor colaboração entre todos os stakeholders envolvidos no processo de construção, permitindo alcançar poupanças na ordem dos 13% a 21% na fase de design e 10% a 17% na fase de construção”.

A mesa redonda ‘Construir o Presente – Criar o Futuro’, na segunda parte da sessão, contou com um painel de ilustres convidados: Fernando Silva, presidente do IMPIC; Almeida Guerra, CEO da Rockbuilding; José Henriques, CEO da Boxplot Management Consulting Services; Miguel Fontes, CEO da Startup Lisboa; e Rita Moura, presidente da PTPC e do Cluster AEC, em representação da Teixeira Duarte.

Fernando Silva, presidente do IMPIC, disse “que o futuro passa pela Indústria 4.0. Existem aqui duas boas notícias: de facto no sector da construção estamos no fim da linha em termos de produtividade comparativamente com as outras indústrias, portanto temos muito espaço para melhoria, a outra boa notícia é que acabou de ser transposta uma directiva europeia para o nosso quadro legal de contratação pública que está em linha com todas estas questões e preparado para integrar todas estas inovações. O problema agora são os agentes saberem utilizar as ferramentas que tem à disposição. O primeiro agente a poder utilizar estes instrumentos são os agentes públicos, de forma a lançarem os concursos públicos tendo em conta a inovação, deixando de adjudicar só pelo factor preço… O IMPIC irá fazer um roadshow nacional a explicar o novo código de contratação pública, uma vez que o fundamental é conseguir explicar aos poderes públicos o que ganham a longo prazo com a inovação e com a construção sustentável”.

Já José Henriques, CEO da Boxplot, considera que há metodologias que advêm da indústria automóvel que podem ser replicadas na indústria da construção e faz um paralelismo claro entre o smartcar e smart building e entre a fábrica do futuro e os estaleiros do futuro.

Numa outra visão, Almeida Guerra, CEO da Rockbuilding, acrescenta “todos nós trabalhamos para as pessoas, pelo que é fundamental sabermos adaptar a oferta à procura do futuro, que evoluiu muito e já nada tem a ver com a procura do passado. Basta pensarmos no número cada vez maior de estudantes em Erasmus que chegam a Lisboa, ou no facto de a nossa população estar cada vez mais envelhecida, pelo que iremos necessitar num futuro próximo de mais residências sénior. Por outro lado, um fator de extrema importância é a necessidade de se repensar os projectos de reabilitação urbana, de forma a adequar os edifícios históricos e das zonas históricas às técnicas actuais, nomeadamente no que se refere aos sismos. Temos de integrar cada vez mais a tecnologia e a digitalização nos nossos projectos, de forma a sermos cada vez mais eficientes e actualizados com as novas necessidades”.

Sobre este tema, Fernando Silva realçou “a necessidade de se encontrar um ponto de equilíbrio entre a questão sísmica e o custo da obra, se não corremos o risco de não haver reabilitação eficiente”.

Para Miguel Fontes, CEO da Startup Lisboa, “Portugal está numa fase única, pela primeira vez estamos numa posição de confiança como nunca vivemos. Hoje é indiferente de onde estamos geo-localizados na Europa. Na área digital é indiferente o local de produção. A Daimler acaba de mudar o seu hub digital para Portugal. Temos de encarar o futuro com outra confiança, temos de mudar a nossa cultura, mentalidade e auto-estima, temos de enterrar esta forma como olhamos para nós. Existem muitas organizações portuguesas que estão a dar cartas no mundo.

A terminar, Rita Moura, presidente da PTPC / Cluster AEC, concluiu que “o sector da construção é um sector tradicional, que atravessa uma crise, mas é um sector dinâmico que já se está  a adaptar, com  empenho, nestes conceitos emergentes. É um sector que precisa de uma estratégia clara, com visão de futuro, que passa por juntar todos os stakeholders, criando sinergias e incrementando a eficiência e a competitividade. O propósito do Cluster AEC é precisamente criar os ‘alicerces’ de conhecimento e competência e contagiar todo o sector para o empenho na sua modernização”.