Acredito que a História nos julgará a todos e escrevo estas linhas ainda chocado com a situação que vivi há dias.
Ia a sair da Revista quando oiço chamar por mim, quase com um grito de desespero. Fui ao encontro de quem quase berrava e, por segundos, tive dificuldades de reconhecer aquela figura. Quase parecia um sem-abrigo e deu-me um forte abraço.
É um velho conhecido com quem tive a sorte de me cruzar faz mais de vinte anos e que era um conhecido consultor imobiliário independente. Recordo-me do seu dinamismo e da sua vivacidade. Estava presente em todo o lado, ia a todas as principais feiras imobiliárias nacionais e internacionais, era um profissional de mão cheia.
Em 2011 foi afectado por gravíssimos problemas de saúde que o obrigaram a recorrer aos hospitais privados e, como tantos outros nesta área, deixou de ter trabalho, mesmo depois de já estar restabelecido. Bateu a todas as portas mas ninguém o ajudou. Estava, afinal, num tempo que já não é o seu.
Vive, neste momento, exclusivamente, do rendimento mínimo nacional. Ele não é mais do que um entre tantos milhares e milhares que este Governo atirou para a miséria.
Tornou-se, para mim, num símbolo de uma época que não acabou. Só desejo que, se não formos nós, pelo menos os nossos filhos levem estes governantes a julgamento.
Joaquim Pereira de Almeida
Foto: Anabela Loureiro