Detesto e adoro a terra onde vivo. À hora de ponta, de manhã, tropeço, metro sim metro não, com uma velhinha ou velhinho que andam mais devagar do que eu. Não seria nada de outro mundo se não conhecesse metade deles.
Não basta pedir “com licença” é mesmo preciso parar para conversar. Sobre a família, a cadela, o trabalho…, enfim passo sempre por mal-educado porque não dou o tempo necessário a cada um. Nem pensar em dizer que estou com algum problema, por que senão é uma desgraça.
Como tenho família que vive ali, há décadas, nem pensar em interromper a minha marcha para falar com alguma amiga mais jovem. Em poucos minutos toda a gente saberia.
A minha grande alegria é quando regresso, ao fim da tarde. A terceira idade já está a jantar e o povoado parece em festa. Africanos, indianos. chineses, brasileiros, ucranianos… mistura-se uma pequena multidão em volta da estação de comboios que me dá um sopro de vida. É gente que ri, que faz barulho, que, por instantes, me faz parecer que parei noutro país.
A mistura tão concentrada de tantas culturas é uma bênção para mim porque adoro os povos e a sua convivência pacífica. Daí que nunca fique mal disposto quando regresso a casa.
Joaquim Pereira de Almeida
Foto: Palácio Nacional de Queluz - DGPC Carlos Monteiro