A questão das transferências para os offshores, feitas às escondidas de todos os portugueses e cujo valor é assustador, nada mais, nada menos de 10 mil milhões de euros, em apenas 20 operações, é tão grave que deve ser colocado acima dos aproveitamentos políticos que, naturalmente, está e estará a provocar.
Quando conheci a notícia - e daqui, desde já, tiro o chapéu, aos meus colegas que a veicularam publicamente, em primeira mão – pensei que era uma partida de Carnaval. Depressa cai em mim e, por algumas horas, cheguei a pensar que fosse mentira, pois a mentira, infelizmente, também tem bons praticantes na Comunicação Social. Mas não, pouco tempo depois, e depois de recolher mais informação, conclui pela veracidade da notícia. E entrei na fase do cidadão incrédulo.
Sou um português como a maioria de nós, não tenho dívidas ao fisco, mas, tal como todos os contribuintes, tenho noção de que sobre mim e sobre a revista que dirijo há um autêntico ‘big brother’ que vigia cada um dos cêntimos que ganhamos e gastamos. Conheço milhares de casos em que, por uma falha mínima, se fazem ameaças, penhoras e tudo o mais. Conheço, também, como milhões de cidadãos, a própria linguagem dos documentos oficiais da máquina fiscal que, até para notificar um simples pagamento, dentro do prazo legal, avisa logo, como um ‘papão’ que, se não pagar, vai acontecer isto e aquilo, sempre dentro do articulado da lei.
E das fases que descrevi, ao conhecer este assunto, entrei numa outra: a de exigir que quem foi responsável por este insulto e prejuízo Nacional, pague. Estou cansado de viver num ‘país de brandos costumes’, estou cansado da propaganda, que utiliza tantos jornalistas para fazer um grande show off e depois deixar que a poeira assente e, não aconteça nada. Sou da escola humana e profissional que foi educada a ouvir, a conhecer e a dialogar. Falo, da mesma forma, tanto com um sem-abrigo, como com o mais poderoso empresário ou político. Para mim, enquanto homens, são iguais, não desprezo uns e não faço vénias a outros. Não sou nenhuma excepção, acredito que uma grande parte dos meus compatriotas tem a mesma postura de vida.
E, por isso, uma das muitas estórias que tenho para contar, e que espero vir a fazê-lo quando for houver mais tempo, é a ‘minha’ reportagem sobre o resgate de que Portugal foi alvo, do que vi, com os meus próprios olhos, durante o domínio da Troika. Falta contar tanta coisa. O caso de que estamos a falar hoje é, por isso mesmo, ao mesmo tempo, uma partida aos próprios organismos internacionais que dirigiram Portugal.
Por um instante divirto-me com o assunto, quanto mais não seja para aliviar o estado de choque em que fiquei, tal como a maioria dos portugueses. Não imaginava que os ‘meninos que teêm governado o nosso País chegassem a este grau de atrevimento.
O que vai acontecer agora? Nada, como de costume, tenho quase a certeza que o tema vai ser bem camuflado. Mas fica na nossa memória colectiva.
Quem me estiver a ler, vai, certamente, pensar que sou meio louco, dizer estas coisas numa revista virada para um público muito conservador e prudente. Quem disse que os conservadores não são sérios? São mesmo muito sérios! É verdade que haverá quem não goste, mas é bom referir que o facto de dirigir a Magazine Imobiliário não me priva dos direitos individuais de cidadania que incluem o direito à indignação.
Joaquim Pereira de Almeida
Director
Foto: Carnaval de Torres Vedras