O Jeroen Djisselbloem deixou-me esta madrugada numa verdadeira aflição. Ontem à noite estava tão cansado que dormi cedo. Resultado: esta madrugada, acordo, e quando ligo a televisão para ouvir as primeiras notícias do dia, já andava tudo louco.
SIC, Euronews, Canal 3 da RTP ninguém se calava, toda a gente a falar de mulheres e copos. Meio ensonado, fui fazendo um rápido zapping para tentar perceber o que estava a acontecer. Nem me refastelei no meu velho sofá. Prostrei-me, de pé, na sala, estupefacto. Contei até 10, como aconselhava Lima Duarte, o 'Zeca Diabo', numa famosa telenovela brasileira e, à boa maneira portuguesa, ou seja, à moda do desenrasca, procurei resolver o assunto: primeira decisão? Comprar uma garrafa de Barca Velha. Mas, olhei para o relógio e disse um palavrão. Àquela hora o Corte Inglês, uma loja latina, estava fechada…chatice; depois, segunda medida, arranjar uma fotografia da Sara Sampaio e imprimi-la a partir do seu Site Oficial. Isso era mais fácil. Mas, depois, como enviar a encomenda ao presidente do Eurogrupo por Express Mail?
Tinha de ser para casa dele, provavelmente na Holanda, porque apesar do seu principal tacho estar em Bruxelas não deve ser lá que ele mora. Quem teria o endereço do ministro das finanças holandês? Fez-se luz! – Tenho o telemóvel do meu velho amigo Carlos Moedas, que andou metido com ele nos negócios da Troika e, por pouco, ia fazendo asneira: telefonar às cinco e meia da manhã para Bruxelas? Acordar um Comissário Europeu a essa hora? Comecei a perder a pica, afinal Moedas, um homem do imobiliário, também é português e como tal, tanto como eu, também deve gastar muito dinheiro em mulheres e copos. Jeroen, nas suas astutas palavras, não fez excepções, pelo que o Comissário também deve estar chateado com a história.
Resignei-me e, como qualquer jornalista, agarrei-me ao computador: localizei o jornal alemão que deu a notícia, em primeira mão. Mais uma vez me pareceu cedo para acordar o colega germânico que entrevistou Djisselbloem. Impotente para fazer fosse o que fosse (nem parece coisa de latino) resignei-me (o que já é mais comum).
Eu só queria saber se o presidente do Eurogrupo estava sóbrio quando fez aquelas declarações. Ou estaria apenas charrado? Sim porque ele, afinal, é ministro na Holanda e, é claro, lá, álcool ou erva é a mesma coisa e mulheres onde gastar dinheiro estão nas montras de um mundialmente famoso bairro de Amesterdão que, ele conhece de certeza absoluta. Com aquele ar de tarado, imagino.
E, desfiz o meu plano: os compatriotas de Djisselbloem contentam-se mais com cerveja, Barca Velha ia cair mal. E a Sara Sampaio jamais foi colocada numa montra, como produto de consumo. Até porque, ao que sei, é muito decente e demasiado bonita.
E lá tomei duche, fui passear o meu cachorro, que não sabia das notícias, e apanhei o Metro. Outro susto!, sem querer dei por mim a olhar para uma rapariga muito bonita que parecia estudante, ia certamente para a Faculdade e pensei: Cuidado! Não olhes! Desci, no Saldanha, era dia e já havia um grande movimento. Toda a gente parecia ir trabalhar e ninguém estava com aspecto ébrio. Levantei os braços ao alto e agradeci ao Papa Francisco que daí a dias vem a Fátima e que também não deve ter gostado da boca de Jeroen. Ele é argentino, não é verdade?
Mas levantei os braços por estarmos a 22 de Março de 2017 e não há três anos, porque, senão, Passos Coelho ainda fazia uma lei a correr, multando quem olhasse para mulheres ou bebesse um copito ao jantar. Mas, raio, a minha epopeia ainda não tinha chegado ao fim.
A dois passos do escritório, esbarro com um cartaz do Bloco de Esquerda e, clic, disparou um alerta: a menina Catarina ainda me vai chamar ‘sexista’, como me pareceu ouvir nas notícias.
E quando, finalmente me sentei, para começar a trabalhar, penitenciei-me: Estás perdoado Djisselbloem. Tu ao menos disseste o que pensas, pior seria, como a maioria da oligarquia da direcção dos organismos da União Europeia, que pensa exactamente da mesma maneira mas não o diz.
E o meu perdão foi total, tomei uma decisão: vou pedir ao querido Moedas o telefone de Jeroen para o convidar a vir jantar cá em casa. Mas não tenho dinheiro para Barca Velha. Ele, com um JP de Azeitão, já fica contente…
Joaquim Pereira de Almeida
Foto: By De beeldredaktie / Martin Hoogenboom Partij van de Arbeid (Flickr: Jeroen Dijsselbloem) [CC BY 2.0 (http://creativecommons.org/licenses/by/2.0)], via Wikimedia Commons