António Fonseca Ferreira é uma figura incontornável da cidade de Lisboa. Esteve durante muitos anos ligado à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo e mais recentemente ao Arco Ribeirinho Sul. Conhece melhor do que ninguém a capital e defende que a Área Metropolitana vai a meio caminho para uma metrópole moderna que alia as duas margens.

Ao longo do seu percurso viu crescer e desenvolver quer Lisboa, quer a Área Metropolitana da capital. De uma forma muito genérica, quais as maiores transformações a que assistiu?

Vítor Matias Ferreira sintetizou de forma feliz, em título de livro, a grande transformação deste território nos anos 60/80 do século passado: “Lisboa de capital do império a centro de metrópole”. Entretanto a cidade modernizou-se e transformou-se em relevante urbe cosmopolita, culturalmente vibrante, atractiva para viver, trabalhar e visitar. ‘Afastada’ do rio, pelo caminho-de-ferro e por uma administração portuária anacrónica, a cidade religou-se ao Tejo, consolidando a sua identidade ribeirinha. A cidade qualificou-se com infra-estruturas e equipamentos funcionais e ganhou novas centralidades, com relevo para o Parque das Nações e a zona Oriental. A Área Metropolitana vai só a meio percurso para uma metrópole moderna: a Metrópole das duas margens. Falta o desenvolvimento do Arco Ribeirinho Sul, fluídas ligações ferroviárias e a nova geração de infra-estruturas de internacionalização a instalar na Margem Sul: Novo Aeroporto de Lisboa e os modernos centros logísticos, terrestre e marítimo.

Como explica o fenómeno que leva os grandes centros urbanos, como Lisboa, a centralizarem os interesses de todo o tipo (económico, social, cultural…), relegando para segundo plano o interior?

Desde a Antiguidade Clássica que as cidades estão no centro do desenvolvimento civilizacional: económico, social, cultural e da própria democracia (Pólis). As cidades concentram os recursos do progresso: escolarização, conhecimento, tecnologia e, particularmente, as relações interpessoais. Mas o Interior não tem que permanecer eternamente esquecido. O nosso Interior tem, hoje, potencialidades (acessibilidades, recursos naturais endógenos, condição transfronteiriça) para transformar a interioridade em oportunidade de progresso económico e social. Assim o compreendam os responsáveis pela ‘Missão para o Interior’, não perdendo tempo com mais estudos e planos, avançando com medidas concretas para o terreno, em sintonia com os agentes e as comunidades do território.

A Estação Espacial Internacional apresentou recentemente Portugal visto à noite e através das luzes acesas pode-se verificar, sem surpresas, que dominam Lisboa e Porto. Mas revelou também uma forte concentração em Bragança, Coimbra, Setúbal, Portalegre, Évora, Beja, Sagres e Faro. Considera que alguma coisa está a mudar ao nível das concentrações urbanas nacionais?

Sem dúvida, o território nacional está em mudança, há novas concentrações urbanas locais e regionais, com potencial de desenvolvimento. Faltam políticas públicas territorializadas, isto é políticas e medidas concebidas e implementadas em parceria com os actores dos territórios; assumidas à escala local e regional; com investimentos orientados para as procuras, necessidades e potencialidades dos territórios, para transformar esse potencial em dinamismos de desenvolvimento.

Na sua opinião, a concentração nas grandes metrópoles é uma tendência que inevitavelmente vai continuar?

A concentração urbana vai sem dúvida prosseguir ao longo do século XXI. Vamos assistir à formação de novas polarizações e eixos urbanos ao longo dos grandes eixos de comunicação e as grandes metrópoles prosseguirão a tendência para a metapolização, ou seja: para a urbanização extensiva, através de novas polarizações e conurbações urbanas difusas, ligando as antigas metrópoles a cidades pré-existentes, entre as quais se estabelece um sistema de mobilidades multimodais e de velocidade elevada. 

Entrevista: Carla Celestino

Foto: Anabela Loureiro