Segundo o mais recente inquérito anual da consultora imobiliária global CBRE, European Occupier Survey, os decisores corporate estão a reagir aos sinais de melhoria económica por toda a Europa. Neste momento, estão a transferir a sua concentração na pura gestão de custos para oportunidades de crescimento futuro.

O inquérito realizado pelo quarto ano, consulta decisores no âmbito do imobiliário em empresas multinacionais que conjuntamente ocupam uma área de cerca de 250 milhões de metros quadrados em todo o mundo. O mesmo mostra o aumento da confiança das empresas na recuperação económica, com menos de metade dos inquiridos (46%) a identificar as economias frágeis como uma preocupação. Em 2012 a esmagadora maioria (70%), identificou o panorama económico incerto na Europa como um fator fundamental para a sua estratégia imobiliária, tendo como principal objectivo a gestão de custos.

Apesar dos referidos sinais positivos, o controlo de custos mantém-se uma prioridade para as empresas. O estudo mostra que praticamente três quartos (72%) dos inquiridos renegociaram contratos de arrendamento nos últimos doze meses (face a 45% em 2012), de forma a "assegurar" acordos enquanto as rendas de escritórios se encontram provavelmente, no ponto mais baixo do mercado. Contudo, esta pressão para reduzir custos deverá diminuir com a continuação da recuperação.

Paralelamente, 61% das empresas referiram que tinham reduzido a sua presença imobiliária através de uma ocupação do espaço mais eficaz. A optimização do espaço é cada vez mais importante para as empresas devido ao exercício de equilíbrio entre economia de custos (referida por 56% dos inquiridos como um fator determinante na estratégia de selecção de locais de trabalho) e a disponibilização de um ambiente de trabalho interactivo (39%), com o objectivo de aumentar a produtividade dos colaboradores (37%). Por conseguinte, é interessante verificar que a larga maioria das empresas não está a adoptar estratégias de trabalho remoto, com 75% a referir que menos de um quarto dos colaboradores trabalha regularmente de forma flexível. Isto indica que o ambiente de escritório ainda é fundamental, o que explica a importância atribuída à melhoria da qualidade do local de trabalho.

Estes factores levam as empresas a privilegiar a disponibilização do ambiente certo nas localizações certas para os seus colaboradores. Apesar do custo constituir o factor fundamental para as empresas na escolha de espaços de escritórios (mencionado por 85%), 45% das empresas referiram que consideram a qualidade da área de trabalho um factor essencial para atrair e reter talentos. Já 73% consideram que a acessibilidade a transportes públicos é importante para os colaboradores, assim como a disponibilização de comodidades, como um ginásio ou restaurantes no local (49%) que proporcionem opções de lifestyle aos colaboradores, e áreas de trabalho flexíveis (48%).

Com a melhoria do panorama económico, as empresas multinacionais estão a demonstrar maior interesse na expansão internacional para novos mercados. O inquérito demonstra-o, com mais de metade das empresas (56%) a identificar o acesso a novos mercados e clientes como o motor fundamental para decisões de localização. Este amplo interesse na expansão vê a Índia e África emergirem como destinos de eleição. Quando convidados a identificar os destinos para onde pretendem expandir as operações, 48% indicaram Índia (o dobro do número de 2012), com a China a ser referida por 42%, uma descida face a 60% em 2012. Registou-se ainda um aumento significativo do número de empresas que tencionam expandir para África. Este mercado-alvo é agora identificado por um terço dos inquiridos, versus um quinto em 2012. No caso da Índia e África, o rápido crescimento populacional e económico, juntamente com o aumento da transparência e a melhoria das infra-struturas, está a eliminar muitos dos tradicionais obstáculos à entrada.

O director sénior de Agência de Escritórios, Comércio, Industrial e Logística da CBRE Portugal, André Almada, defende que “os sinais positivos dos últimos trimestres de 2013 são animadores, contudo, o mercado de escritórios exclusivamente induzido pelas empresas, não reage automaticamente. Temos a expectativa de que, mantendo-se a tendência positiva do final do ano anterior com dados macroeconómicos consistentes, possamos assistir no segundo semestre, a uma dinâmica crescente do mercado de escritórios. Acrescentando que, “com base no visível crescimento desde 2012 de centros de serviços partilhados (“shared services”, “BPO business process outsourcing” e call centres) e dada a conjuntura actual do País (excesso de mão-de-obra qualificada, leis laborais cada vez mais flexíveis, entre outros), tudo indica que este formato de negócio poderá continuar a aumentar em 2014. Caso se verifique esta tendência, poderemos vir assistir a uma escassez  de oferta adequada. Este perfil de negócio requer normalmente edifícios tecnicamente evoluídos, espaços de grande dimensão, com bons acessos a transporte públicos, e este tipo de oferta, em consequência da quase inexistência de nova construção nos últimos anos, começa a escassear.”

Foto: Anabela Loureiro