As temperaturas baixas que têm assolado Portugal conduziram a picos de aumento dos níveis de poluição. Segundo a associação ZERO, a combustão em lareiras foi determinante para a poluição do ar.

A associação ZERO afirmou que “desde a passada terça-feira, o tempo frio em Portugal Continental, associado à ausência de vento ou a vento fraco, em particular durante a noite, tem levado a picos de poluição registados em diversas estações de monitorização de qualidade do ar entre o entardecer e as três a quatro horas da manhã, em particular nas zonas Centro e Norte (a análise da informação na região Norte tem sido limitada por insuficiência de dados ao público através da do site qualar.apambiente.pt.

Segundo esta associação, as concentrações de partículas inaláveis (PM10) têm atingido valores muito elevados, verificando-se mesmo em alguns dias a ultrapassagem do limite diário legislado em alguns locais. Também no caso das partículas finas (PM2.5) se têm registado valores anormalmente elevados na mesma altura do dia. Apesar da qualidade do ar se apresentar boa em diversas áreas do País, é claramente visível este comportamento atípico. A razão principal é o aquecimento de habitações recorrendo à queima de biomassa (lenha) em lareiras, para assegurar conforto térmico, com a consequente elevada emissão de partículas. O elevado frio sem vento está associado a situações de inversão térmica, com reduzida mistura vertical na atmosfera, permanecendo os poluentes mais perto da superfície terrestre, verificando-se assim uma deterioração da qualidade do ar.

A queima de lenha em lareiras é um dos principais responsáveis por este cenário, já que emite partículas de diferentes dimensões, desde partículas consideradas ultrafinas a partículas finas (PM2.5), carbono negro (fuligem), monóxido de carbono, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, dioxinas, óxidos de azoto, entre outros poluentes. As emissões afetam a qualidade do ar exterior e interior. Refira-se que a combustão doméstica em lareiras tem assim elevados impactes na saúde humana, não apenas a nível respiratório mas também cardiovascular.

Apesar da biomassa ser considerada uma fonte de energia renovável, a sua combustão à escala doméstica é responsável por cerca de um terço do total de emissões de partículas finas na União Europeia. Não sendo a lenha considerada como um combustível fóssil, a emissão de carbono negro (fuligem) na sua queima, ao absorver o calor na atmosfera, acaba por ser uma desvantagem no combate às alterações climáticas.

Em Portugal, em relação ao tipo de combustível utilizado, verifica-se que 34% do total de habitações recorre aos combustíveis sólidos para aquecimento. De acordo com o inquérito ao consumo de energia no sector doméstico, efectuado pela Direcção-Geral de Energia e Geologia em 2011, a segunda fonte de energia mais usada (25% do total) é a lenha, com a utilização de pinho (37%), eucalipto (21%), azinho (7%), sobro (6%), resíduos florestais (4%) e outros tipos de biocombustíveis, como as pellets e briquetes (24%).

Existem, no entanto, algumas medidas, e mesmo práticas simples, que os cidadãos podem adoptar, de forma a minimizar as emissões poluentes e em simultâneo proteger a qualidade do ar interior.

Neste sentido, a ZERO propõe que se promovam medidas de eficiência energética nas habitações, melhorando o isolamento e consequentemente reduzindo as perdas de calor, que infelizmente não são suportadas por qualquer benefício fiscal. Outra medida é substituir as lareiras abertas por lareiras fechadas, com recuperação de calor; sendo eu nas lareiras abertas, a eficiência é de apenas 10% e com maior libertação de poluentes para o ar interior, enquanto nas fechadas, equipadas com uma porta frontal, com um sistema de recuperação de calor que permite a transição do calor por convecção natural, a eficiência é superior a 50%, com menores emissões para o interior.

Ponderar o recurso à queima de pellets em sistemas apropriados (por exemplo, salamandras) e com a potência adequada é outra das medidas aconselhadas até porque são dos mais eficientes: as pellets devem ter a sua qualidade certificada e devem resultar do uso de resíduos florestais e não de madeiras mais nobres.

Por fim, a ZERO adverte ainda para nunca queimar produtos combustíveis como plástico, pois agrava de forma muito significativa a toxicidade dos gases e partículas emitidas.