Pela primeira vez num espectáculo pede-se ao público que não desligue o telemóvel. A ideia é que, na estreia mundial de “a.bel”, as mais de mil pessoas que vão encher a Sala Suggia, da Casa da Música, no Porto, levem os seus smartphones e os juntem aos instrumentos dos músicos, experienciando de partilha musical e tecnológica sem precedentes.
O concerto “a.bel”, que vai ter lugar no dia 26 de Outubro, é uma iniciativa inédita organizada pelo INESC TEC em parceria com a Casa da Música e vai contar com a participação dos compositores Rui Penha, investigador do INESC TEC, Carlos Guedes, da Universidade de Nova Iorque em Abu Dhabi, Neil Leonard, da Berklee College of Music, e José Alberto Gomes, da Digitópia, que vão estar em palco com outros músicos como o saxofonista Gilberto Bernardes e o percussionista André Dias, além da Digitópia Collective.
O projecto vai permitir a cada espectador, depois de instalar uma aplicação com sistema operativo iOS ou Android, transformar o seu smartphone ou tablet num instrumento musical. Ao carregarem nas superfícies dos dispositivos móveis podem tocar música e juntar-se aos músicos profissionais do “a.bel” (nome duma aplicação gratuita desenvolvida para Android e iOS - Abel Salazar e Alexander Graham Bell).
Rui Penha, em declarações à agência Lusa, explicou que “todas as pessoas já vêm para o concerto com um instrumento musical no bolso. O problema é que, na maior parte dos casos, isto (o telemóvel) é um elemento disruptivo das experiências colectivas. Uma pessoa num concerto que esteja a olhar para um telemóvel é uma pessoa que está alheada do que se passa. O desafio é como é que transformamos isto numa experiência que seja não disruptiva da experiência colectiva, mas uma ponte para que as pessoas se conectem”.
O investigador disse que estão a tentar “perceber de que forma é que pode dar a cada pessoa que está no concerto a sensação de que teve uma participação activa no concerto, de que foi um músico”. Acrescentando que “a pessoa pode decidir quando é que vai tocar uma nota, pode-se articular com as pessoas que estão à volta dela. Só que esta decisão, ou seja, qualquer nota que escolha, vai estar integrada nesta harmonia”. Quer isto dizer que a musicalidade de cada um vai ser “sincronizada através da rede”.
Para se perceber melhor, Rui Penha dá um exemplo: “Há um modo em que quando toco uma nota ele vai repetir a nota mais duas vezes em intervalos sincronizados com o ritmo à volta. A minha intervenção automaticamente vai ser integrada do ponto de vista rítmico, mesmo que eu não queira. No servidor posso pensar, ‘há ali uma zona que está a exceder-se’ e posso limitar as repetições do que estão a fazer. Há aqui um certo controlo, mas idealmente não temos de o usar”.