O Governo vai fazer o levantamento dos problemas que existem com os trabalhadores portugueses em Angola, sobretudo no sector da construção civil. Mas o Sindicato da Construção de Portugal já alertou que as dificuldades podem também passar pela Europa, nomeadamente por Munique.
No final de uma reunião com o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, que decorreu em Viseu, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário afirmou aos jornalistas que desconhece o número exacto de trabalhadores portugueses que regressaram de Angola: “Não sabemos exactamente quantos foram e quantos regressaram, porque os sistemas estatísticos em Angola não funcionam com a precisão que funcionam noutros locais”. Ainda assim, diz saber que “há muitos milhares de trabalhadores em Angola e também sabemos que alguns milhares, com certeza, têm regressado nos últimos tempos”.
O secretário avançou, no entanto, ter conhecimento de que existem “casos de pessoas que têm regressado e que ficam em situação de desemprego, daí que tenhamos de encontrar soluções o mais rápido possível, procurando ajudá-los a reintegrarem-se no mercado de trabalho interno ou externo”. Para o efeito, o Governo “vai estudar com muita rapidez algumas soluções, particularmente no domínio da reconversão e da formação profissional, que possam vir a atender, pelo menos, os casos mais graves”, esclareceu.
O representante do Governo adiantou ainda que se registou “uma redução significativa do volume de trabalho em Angola, particularmente no sector da construção civil”. José Cesário disse que “o Sindicato transmitiu-nos um conjunto de situações, parte delas teremos de confirmar, nomeadamente a existência de situações de abusos e de salários em atraso” e, embora não tenha “denúncias directas”, diz que vão estar “muito mais atentos” e pedir inclusivamente aos diplomatas portugueses em Angola “uma atenção maior no terreno para a existência destes casos”.
Segundo o presidente da direcção do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, em Angola estão mais de 120 mil trabalhadores da construção civil e que “mais de 50 mil têm salários em atraso, de um a quatro meses”.
O representante sindical diz que “nunca esteve perante uma situação como esta” e lamentou que “as grandes construtoras, como é o caso da Soares da Costa, dizem que a conversão de kwanzas em euros demora muito tempo, mas 90 dias é muito tempo. Se fossem 15 dias era uma coisa, penso que é uma informação que não tem consistência”. Por isso, defende que “é preciso que o Governo intervenha porque há muitas empresas, cerca de 200, que foram à falência em Portugal, levaram os trabalhadores para lá e estão a fazer o que fizeram em Portugal”.
Albano Ribeiro alertou ainda que “em Munique, a bomba também vai rebentar, porque há ali problemas muito graves com trabalhadores da construção, um sector que atravessa a maior crise de sempre da sua história”.