Desde os primeiros esboços que foram produzidos, era evidente que o centro comercial Alegro em Setúbal ia quebrar toda uma série de regras estabelecidas há muito tempo para este tipo de projectos.

Desenhado por Mário Sua Kay, o projecto foi, desde o seu início, um desafio. Como ponto de partida tinha um hipermercado e uma galeria comercial existente que já há algum tempo se encontravam desactualizados e a necessitarem de uma recuperação profunda. O promotor, a Immochan, assumiu uma abordagem radical, encarregando o arquitecto de conceber um projecto totalmente novo.

O projecto teve de integrar o hipermercado existente e mantê-lo em pleno funcionamento durante a construção do novo shopping, o que implicou a manutenção dos lugares de estacionamento de clientes e dos acessos para pedestres, transportes públicos e veículos automóveis. A galeria obsoleta seria totalmente demolida.

Os índices de construção no terreno existente encontravam-se totalmente preenchidos, inviabilizando qualquer área adicional para a expansão do novo shopping. Assim, esta ampliação só seria possível com a aquisição de um lote adjacente a Oeste, separado fisicamente por uma estrada municipal que teria que ser mantida. A diferença altimétrica entre os dois terrenos era de catorze metros, medidos ao ponto mais baixo do novo lote.

O projecto desenvolveu-se em três “peças” interligadas. A primeira ‘peça’ envolve a área imediatamente à frente do hipermercado. Uma torre espectacular em aço e em vidro multi-color marca o principal ponto de entrada do hipermercado. A antiga galeria e as lojas de conveniência em frente ao hipermnercado foram totalmente remodeladas com novas frentes, novos pavimentos e iluminação.

A segunda ‘peça’, desenvolvida em dois níveis, substitui a antiga galeria comercial, acessível por uma nova entrada marcada por uma pala em ‘espelho’ sustentada por um conjunto de ‘árvores’ metálicas. Desta entrada acede-se directamente ao estacionamento subterrâneo e à grande praça rectangular de duplo pé direito que faz a ligação entre o hipermercado e as galerias do shopping.

A terceira ‘peça’ é inteiramente construída sobre o novo lote e faz uso da diferença altimétrica dos catorze metros de altura. Um enorme vazado é criado como característica marcante, onde os diferentes níveis das galerias se projectam e se sobrepõem em diferentes ângulos, criando um jogo visual intrigante. A esta dinâmica visual juntam-se o ziguezague da iluminação artificial, os diferentes tons de cores e formas das clarabóias e a luz natural que ilumina todo este espaço, criando um jogo rico e dramático de padrões que se reflectem por toda a galeria. Uma praça de restauração e um terraço ajardinado com vistas da Serra da Arrábida e do mar complementam esta ‘peça’.

Nos pisos inferiores do grande vazado localiza-se um complexo de cinemas e um health-club, com acesso directo do exterior, permitindo a utilização dos mesmos independentemente do horário de funcionamento do shopping. Em vários pontos ao longo das galerias encontram-se aberturas e terraços para o exterior.

Todas as ‘peças’ do shopping têm acesso directo para os parques de estacionamento subterrâneos, que por sua vez e graças à topografia natural têm acessos directos para o exterior e vias envolventes.

Os arranjos exteriores do shopping enquadram os diferentes níveis da envolvente, com acessos pedonais e rampas nas zonas mais íngremes e uma grande área exterior ajardinada com campos de jogos, parques infantis e espelhos de água na zona mais plana, a nascente do shopping. Estes precursos permitem ligações fáceis às zonas envolventes de habitação e terciário, promovendo a integração do conjunto comercial na envolvente urbana.

Depois do sucesso em Nice, o Alegro Setúbal foi escolhido como finalista dos prémios ICSC, em Milão, no próximo ano.

Atelier Sua Kay Arquitectos