Marcas conceituadas de comércio de luxo, novas unidades hoteleiras de cinco estrelas e habitação vão ocupar vários dos edifícios que até há poucos anos estavam ocupados pelas instituições financeiras.
A Avenida dos Aliados espelhou durante décadas a situação de abandono que vivia a Baixa do Porto. A primeira intervenção – com grande polémica à mistura - foi no espaço público, contudo marcou o início de um processo de renovação urbana e de reabilitação dos emblemáticos edifícios que vão transformá-la numa das avenidas mais chiques e comparável às avenidas das vizinhas cidades europeias. Depois da abertura do Hotel Intercontinental, que deu o primeiro passo no investimento hoteleiro de cinco estrelas na Baixa do Porto, neste momento são vários os edifícios que estão a iniciar obras de reabilitação, mais ou menos profundas, mas que vão permitir albergar espaços comerciais de luxo, como é o caso das lojas de Louis Vuitton e Christian Dior, no edifício da antiga sede do Banif e até alguns anos, ocupado pelo Jornal O Comércio do Porto.
Embora a habitação e o comércio possam vir a ter um peso significativo nos novos investimentos nos Aliados, neste momento, é a hotelaria que está a dar cartas. É o caso do edifício Monumental, onde o empresário Mário Ferreira, da Douro Azul, está a construir um hotel de charme, com 78 quartos, um restaurante, café e loja, num investimento de 12 milhões de euros. Contudo, também a habitação tem o seu espaço neste empreendimento, já que nas traseiras vão ser construídos 20 apartamentos T1 e T2, para arrendar ou vender.
Junto ao edifício Monumental irá iniciar-se em breve as obras no edifício AXA, comprado pelo grupo Gaspar Ferreira, e que será transformado numa unidade hoteleira de cinco estrelas da cadeia Eurostars. Com 144 quartos e três lojas, a nova unidade estará em funcionamento dentro de dois anos.
Contudo, nas zonas próximas da Avenida dos Aliados, estão a desenvolver-se outros projectos que vão marcar a Baixa do Porto. É o caso da transformação da Brasileira num hotel de cinco estrelas, do grupo Pestana, e, mesmo ao lado, o Hotel Bonjardim, uma unidade de quatro estrelas, da cadeia EXE – a primeira no Porto - cujo investimento na aquisição e transformação do prédio está a cargo do grupo de Gaspar Ferreira.
Do outro lado da avenida, na rua do Avis, será visível a transformação do prestigiado Hotel Infante Sagres, comprado recentemente pela holding Fladgate Partnership, que detém as caves Taylor’s e o hotel The Yeatman, em Gaia.
Na componente comercial destacam-se as marcas internacionais de restauração, como é o caso do Hard Rock Café, instalado no cruzamento da Rua do Almada, como a Rua da Fábrica, junto ao Banco de Portugal. E a Starbucks que se prevê venha a abrir na estação de São Bento. Onde, aliás, se discute a instalação de vários espaços comerciais e de um hostel.
Outros projectos de reabilitação poderão em breve aparecer na Avenida dos Aliados. É o caso das instalações do Novo Banco, em fase de venda. Neste momento o processo de venda encontra-se já numa segunda fase, depois de um conjunto de potenciais interessados terem apresentado propostas para a aquisição do edifício. São quatro mil euros de área bruta e os valores de venda andam entre os dois e os 2,5 mil euros o m2.
Neste momento também a Caixa Geral de Depósitos e o Montepio procuram solução para alguns dos edifícios de que são proprietários nesta avenida.
Os andares superiores do edifício do Banif, comprado por um fundo imobiliário norte-americano, estão a ser transformados em 23 apartamentos de luxo, que estão, curiosamente, a ser comprados, maioritariamente, por clientes nacionais. Com tipologias T1 a T4, apresenta valores entre os 215 mil euros e os 1,4 milhões de euros, sendo que já tem 40% dos apartamentos vendidos.
Enquanto, no caso de Lisboa, são especialmente os estrangeiros a comprar a habitação, no caso do Porto é visível que são sobretudo as famílias portuguesas que estão a investir neste segmento.
Embora, em certas zonas da Baixa, os preços de aquisição por m2 de imóveis para reabilitação no Porto tenham disparado nos últimos quatro anos – dos mil e poucos euros para os 2,5 mil euros a três mil euros, a tualmente – continuam a ser cerca de metade em relação aos valores praticados na cidade de Lisboa. Na capital é frequente encontrar prédios para reabilitar a custar cinco a seis mil euros o m2. Não admira, pois, que o preço final da habitação seja em certas zonas superior aos 10 mil euros o m2.
Este facto leva a que o preço da habitação final em Lisboa tenha disparado, enquanto na cidade do Porto mantém-se por valores mais em conta, permitindo que famílias com algum poder económico possam comprar nas novas zonas da Baixa do Porto e a preços competitivos.
Na opinião de Rui Ávila, administrador do grupo Ferreira, “em Lisboa os prédios estão com preços de entrada muito altos e as margens de promoção já são apertadas. No Porto os preços de venda das unidades reabilitadas, ainda deverão subir, mas até lá as margens de promoção também não são altas”. O factor positivo, acrescenta, “é que em ambos os casos existe muita procura e para diferentes tipos de imobiliário – hotelaria, residenciais e serviços – o que é relativamente novo entre nós”.
Elisabete Soares
Foto: visitporto.pt