A presidente de direcção executiva, Cristina Siza Vieira, adverte que “não precisamos de mais hotelaria”, o que é preciso é “mais procura” e “regulamentar o alojamento local que se encontra a crescer no País”.

Segundo os dados da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Lisboa fechou o ano de 2013 com 10 milhões de dormidas, tendo sido um ano de recordes. A presidente de direcção executiva avança que “temos uma taxa de ocupação muito baixa, temos muitas “camas frias”. Ainda que a oferta hoteleira tenha vindo a crescer, já que nasceram mais 51 hotéis, a realidade é que abrandou de 2012 para 2013. Por isso afirma: “Não precisamos de mais hotéis, do que precisamos é de mais turistas, de mais procura”.

Uma realidade que foca é a de que existe muita oferta hoteleira que nasceu no tempo das “vacas gordas” e que se tornou excedentária, ou que tive dificuldades, “seja porque as localizações não são as melhores, seja porque foram projectos muito caros”. Este ano a taxa de ocupação cresceu mas o preço médio pouco aumentou, ou seja, se o rendimento por quarto disponível cresceu foi por conta da taxa de ocupação. “Há aqui dificuldades grandes na hotelaria porque foi muito alavancada na banca”, acrescenta.

A análise que a associação faz do mercado, neste momento, é complexa porque há várias formas de alojamento que nasceram e que precisam de ser tratadas e regulamentadas. Tal é o caso do alojamento local. Trata-se de uma concorrência que a hotelaria está a sentir e que, neste momento, acaba por ser desleal já que as condições de acesso ao mercado e de funcionamento não são iguais para todos os que estão a operar no sector da hotelaria.

A este propósito Cristina Siza Vieira explica que “o alojamento local não é um concorrente directo da hotelaria, assim como não o são os hostels, nem os apartamentos, nem as casas particulares, mas têm de ter condições de acesso e de funcionamento no mercado transparentes e iguais para todos”.

Refira-se que o alojamento local começou por ser algo pontual que nasceu para responder a algumas necessidades de reclassificação de pensões, albergarias, etc., que não conseguiam passar a hotéis. Mau grado, como esclarece, “de repente abriu-se uma porta para descarregar no mercado turístico apartamentos que estavam preparados para o mercado imobiliário e que a crise não permitiu que fossem vendidos para esse fim e que acabaram por ser direccionados para o alojamento turístico”. Tal é o caso da Rua Ivens, em Lisboa, onde estão alocados edifícios a alojamento turístico. Não nasceram para este fim, mas estão no mercado turístico.

Para a presidente executiva, “o mercado local veio para ficar e é evidente que há mercado para isso. Há mercado para hostels, para casas, para apartamentos, para o surfcoaching, para o ‘do it yourself,’ mas não pode ser o único mercado”. Como declara, a posição da AHP nesta matéria é clara: o alojamento local precisa de ser regulado mas, tal como não quer ser hotel, também não pode ser habitação.

Por isso, a associação fez três distinções: entre alojamento local e hotéis; entre alojamento local e habitação; e dentro do alojamento local distinguir as formas mais colectivas como os hostels e casos pontuais. Aliás, esta foi a proposta apresentada por esta entidade junto do secretário de Estado do Turismo.

Na primeira hipótese, a presidente explica que “se não querem ser hotéis, passam a ter facilidades na instalação, não têm que ir a projecto ao Turismo de Portugal, não têm de recorrer a um processo de licenciamento, não têm uma série de exigências altamente complexas como os hotéis mas, obviamente, que tem de haver transparência fiscal e os rendimentos têm de ser participados e tributados e têm também de ser transparentes perante o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras”.

Relativamente à segunda, diz que “há que distinguir entre habitação e alojamento local turístico, é que, caso não se faça isso, corre-se o risco de descaracterizar as próprias cidades”. Com efeito, em zonas preparadas e equipadas para habitação, em prédios onde residem pessoas, “não deve ser possível que, em um ou dois andares, se instale um hostel, já para não falar na sobrecarga que é para os condóminos e também a problemática que é para as cidades.”

Na terceira hipótese é preciso separar dentro do alojamento local, aquilo que é o alojamento pontual – as casas particulares, apartamentos – daquilo que são blocos de apartamentos e de hostels. “Queremos consagrar e proteger a figura do hostel que é um tipo de alojamento interessante, aliás nós temos dos melhores hostels e têm sido reconhecidos mundialmente”.

Na opinião de Cristina Siza Viera, “a hotelaria convive muito bem com esta realidade porque ambos se dirigem a procuras diferentes e ambos enriquecem o País”.

Foto: Anabela Loureiro